terça-feira, 28 de junho de 2011

Sobre O GRANDE ENCONTRO DO CANGACEIRO JESUINO BRILHANTE COM O CABO PRETO LIMÃO - Dr Epitácio Andrade


O Dr Epitácio de Andrade Filho – Autor de A Saga dos Limões – “Negritude no Enfrentamento ao Cangaço de Jesuíno Brilhante”, nos enviou:

CANGAÇO E NEGRITUDE

Depois de fantásticas incursões cordelísticas pelo universo do cangaço, com a publicação de “O Delegado que Virou Cangaceiro”, em março de 2008, e “Jesuíno, o cangaceiro Brilhante”, em maio de 2009, o Poeta Paraibano Gil Hollanda lança “O Grande Encontro do Cangaceiro Jesuíno Brilhante com o Cabo Preto Limão”, que tematiza a interface do fenômeno do cangaço com o resgate histórico da negritude sertaneja.

Com leveza e firmeza, com suavidade e argúcia, a genialidade poética de Gil Hollanda vai construindo, em sextilhas de cordel, esse “Grande Encontro” que corresponde ao maior conflito cangaceiro já ocorrido no Oeste do Rio Grande do Norte e fronteira paraibana, envolvendo o bando de Jesuíno Brilhante e o segmento étnico representado pela família Limão.

Minimizada nas abordagens da literatura sobre a história do cangaço, o presente cordel contribui para reparar hiatos presentes na descrição da negritude do sertão, quando afirma sua resistência ao recrutamento forçado para a Guerra do Paraguai (1865-70), a participação na Insurreição dos Quebra-quilos (1874-75) e o enfrentamento ao cangaço de Jesuíno Brilhante (1871-79).

A epopéia Brilhantes versus Limões, ocorrida nos territórios feudais sertanejos do Brasil imperial, está sintetizada nos versos do “Grande Encontro”, de Gil Hollanda. Deliciemo-nos, pois, com sua leitura.


O GRANDE ENCONTRO DO CANGACEIRO JESUINO BRILHANTE COM O CABO PRETO LIMÃO - autor: Gil Hollanda


Pra quem estuda o cangaço

Agora eu vou contar

Em sextilhas de cordel

Um encontro de lascar

Que aconteceu no sertão

Do Oeste potiguar.


Foi no tempo do império

Bem antes de Virgulino

Em dezoito e sete e nove

Que o cangaço nordestino

Tem datado em sua história

Esse confronto assassino.


Trata-se do grande encontro

Do Cabo Preto Limão

Com Jesuíno Brilhante:

Um herói, outro vilão

Ou um vilão, outro herói?

Eis a tal da discussão.


JESUINO BRILHANTE

Meu nome é Jesuino

Sou Brilhante, sim senhor!

Conhecido no sertão

Como um nobre vingador

Que assim como Robin Hood

Do pobre sou defensor.


PRETO LIMÃO

Esta é sua versão

Seu ‘amarelo assassino’

Pra querer ser um herói

Mas agora eu lhe ensino

O bê-á-bá dos limões

Que aprendi desde menino.


JESUÍNO BRILHANTE

Já começa o atrevimento

Nem se apresenta sequer

E quer logo entrar na história

Só falando o que bem quer

Diga primeiro quem é

Pois eu não sou um qualquer.


PRETO LIMÃO

Eu sou o Cabo José

O Cabo Preto Limão

Sento praça na polícia

Com esta arma na mão

Sou a vingança e a justiça

Dos negros deste sertão.

JESUINO BRILHANTE

Qualquer negro na polícia

É somente um pau mandado

A serviço do poder

Conservador deste Estado

Justiça aqui não existe

A não ser do meu ‘bargado’.


PRETO LIMÃO

Este sertão não é seu

Aqui a lei é do cão

Não se esqueça que sou livre

Mesmo em plena escravidão

Estou aqui pra vingar

A morte de mais um irmão.


JESUINO BRILHANTE

Por vingança aos limões

No cangaço eu entrei

O seu irmão Honorato

Fui eu mesmo que matei

Mas por suas desavenças

Fiz valer a minha lei.


PRETO LIMÃO

Que lei é essa, seu cabra?!

A lei de um cangaceiro

Foragido da polícia

Que se diz ser justiceiro?

Vou lhe mostrar agora

Quem manda neste terreiro

[...]

Para ler o cordel na íntegra, clique em

2 comentários:

  1. Há algum tempo que penso em escrever sobre a saga de Jesuíno Brilhante, "o cangaceiro potiguar". Recentemente , tenho visto
    muito trabalhos sobre o mesmo e, com isso, deixei a ideia de lado, pois a figura do "cangaceiro romântico" tem sido muito bem representada por poetas, como os belos trabalhos do Dr. Epitácio de Andrade.

    João Maria de Medeiros - professor e cordelista

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  2. Como também Gil Hollanda, que é o autor destes versos acima.

    João Maria de Medeiros - professor e cordelista

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