sexta-feira, 26 de outubro de 2012

INVERNADA - Aldenir Dantas


O sítio estava em festa:
sapos coaxavam descontroladamente nos córregos,
cacimbas e barreiros.
Pássaros chilreavam numa tremenda algazarra.
A cebola-braba enfeitava com suas flores brancas
o morno leito da nova-terra, em núpcias com a chuva.
Casamento feliz...
Quanta fertilidade! Quantos filhos! Quantos frutos!

Antes, mesmo, do sol nascer
meus tios assobiavam pelos terreiros
alcunhando e afiando enxadas, foices e enxadecos.
Vó corria na cozinha para apressar o café, a tapioca,
o cuscuz, a batata...
Café forte. Torrado em casa com rapadura boró.
Tomar e sair pro vento, era "ramo" na certa.

As galinhas entretidas com os brotos de berduega
nem rondavam a porta da cozinha à espera do milho.
O peru - bicho besta - levava o tempo a gritar
reclamando do barulho.
A alegria estampava-se em tudo e todos.
Apenas os bodes choramingavam, encolhidos,
na biqueira do oitão.

6 comentários:

  1. Este poema, Aldenir, é muito legal. Parabéns.

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  2. Um belo poema Aldenir! Conforme vamos lendo, enxergamos na memória algumas dessas cenas que vivenciamos. Parabéns!

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  3. O que eu dizer Adriano já disse.É um belo poema.

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  4. Como pode isso caro Aldenir, voce narrou tudo o que ja vivi, fantástico.

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  5. As imagens que esse poema provoca nos faz ficarmos liricamente saudosos.Adorei!

    Cristiane Praxedes Nóbrega

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  6. Obrigado, amigos. Isso é coisa de quem tem um pé na cidade e o outro no mato. Abraço a todos.

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