sexta-feira, 29 de novembro de 2013

RANGER DE DENTES - Rogério Almeida



Que faço, mulher, das noites quietas
Imersas em vinho
Velando o silêncio
De quem já não sabe
Se há algo além
De tanto chorar
De tanto carinho?

Que faço também
Dos dias em trevas
Mais graves que os ventos
De toda poesia
Que açoitam valentes
As velas infladas
De tanta agonia?

Que faço, ainda, de todo este mofo
Que faço
Suplico
Do fátuo fogo
Que exausto declina
O ardente convite
À vida que brinda?



Que faço, mulher, que faço afinal
De todo este frio
Que nunca esvaece
Que é lâmina e fende
A carne tão frouxa
De quem já não move
A face indolente
Em seu desvario?

Que faço, me diga, que faço de todos
Que incautos caminham
Ao léu e sem fim
Às costas o berço
À frente o cerzir
Do féretro estreito
Em que se há de tornar
Ao eterno porvir?

Que faço, mulher, e que faço de mim
Aquele que espera
Da alma despido
Sem dor e sem medo
Que não o de ser
Sem ti condenado
Ao eterno degredo?

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