sábado, 28 de dezembro de 2013

CURTA O CURTA, NÃO CURTA DROGAS! - Marcos Cavalcanti


O que é o espelho? É o que nos dá a imagem invertida da gente e do mundo? O que é a arte? É o que nos dá a imagem divertida do mundo? Tudo serve ao seu contrário também no mimetismo que ambos refletem. A arte que faz rir é a mesma que faz chorar. A arte que nos proporciona distração, também nos faz pensar. Nesse sentido, o documentário é um gênero especial no mundo da Sétima Arte e a sua função primordial é a de provocar no espectador, reflexões sobre aquilo que se desenrola na tela. Quando ele congrega a capacidade de emocionar e de nos fazer pensar, atinge o seu máximo objetivo. Não importa quão simples tenha sido o meio empregado; quão precário tenha sido o aparato técnico utilizado, nem tão pouco se os seus autores e atores são amadores ou profissionais.

Quem já assistiu ao documentário “Falcão - Meninos do Tráfico, de MV Bill, talvez imagine que não tenha muito mais o que ver quando o assunto é Droga. Na verdade, há sim, pois são muitos os ângulos a serem explorados nesta difícil abordagem e somente uma visão sistêmica do tema nos torna plenamente conscientes do que “o mal dos séculos” significa e que consequências traz ou trará para o nosso cotidiano.

O curta-metragem “De quem é a culpa?” que teve a sua avant-première ontem (27-12-2013), no Teatro Candinha Bezerra, e que foi produzido com muito esforço pelo Grupo de Teatro Lua Serena (com o apoio especial de Nilson Rocha), nos amplia a visão com o mérito de nos colocar dentro da cena através das inquietantes indagações que nos propõe. Vendo o filme nos enxergamos partícipes do enredo e chamados à refletir sobre o nosso papel nessa trama ou nesse terrível drama que desafia a todos. O curta, ao trazer dados da realidade brasileira, nada-ficcional, mas ainda subdimensionados, nos provoca desde o início, e ao final deixa evidente que não basta responder às perguntas propostas. É preciso agir imediatamente. Assim, camaradas, senhores políticos, agentes de segurança, judiciário, educadores, artistas, desportistas, empresários, mães e pais de família, crianças, jovens, adultos e idosos, câmeras: Ação!

Não nascemos para morrer da forma absurda como morre o personagem principal; não nascemos para sermos zumbis de si mesmos; não existimos para não-existir, e é precisamente por isso que a cena final é tão chocante, é tão forte e nos inquieta. Inquieta-nos porque é o testemunho em reprise do terrível que está tão próximo e que é cada vez mais frequente em nossa cidade; inquieta-nos porque percebemos que ela está bem ali, convulsiva e com o sangue ainda quente escorrendo pelo calçamento da que outrora fora uma simples e pacata cidadezinha do interior. A morte, brutal, crua e banalizada se apresenta diariamente nos blogs da blogosfera, como a repetir os versos de Augusto dos Anjos: “ O homem que nesta terra miserável, mora entre feras/sente inevitável necessidade de também ser fera.”

Humanizar-se, eis a chave para começar a busca por soluções. Sentir que o outro é nosso semelhante, que é nosso irmão e que merece algo mais que ser um mero baseado de existência; que merece ser sim um craque na vida e não ter a vida jogada no crake.
Malgrado todo o drama que se desenrola no filme da vida, é esperançoso ver jovens produzindo arte em nossa cidade. É alentador ver que a batalha não está perdida e que é prazeroso dizer: parabéns aos protagonistas deste roteiro. A CULPA por este texto eu credito inteiramente a vocês, que nos fizeram pensar e que nos faz agir. Quem não viu o documentário, veja! Culpados ou inocentes, não nos culpemos por ignorância ou omissão.


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