quinta-feira, 3 de julho de 2014

SOBRE A VINDA DA BESTA FUBANA - Teixeirinha Alves

Eu não tenho como expressar em palavras a imensidão de sentimentos que a República Rebelada de Palmares me causou durante a leitura." Teixeirinha Alves


               Por obra e graça do amigo poeta Gilberto Cardoso, chegou-me às mãos o extraordinário livro “O Romance da Besta Fubana”, do pernambucano Luiz Berto. Obra fantástica (com todas as acepções dessa palavra!), que revela alegórica e realisticamente nossas mais profundas raízes nordestinas, nosso jeito religioso e profano de ser e existir no mundo.
            Encantaram-me os principais personagens, todos no mesmo nível (ou em patamar superior) dos criados por gênios como Ariano Suassuna, Guimarães Rosa, Machado de Assis,... Ei-los:
Zé da Ferida: Esmoler de profissão; seguidor ferrenho dos ensinamentos do Cristo e de seus santos; pregador contumaz, visando mais à salvação das almas de seus ouvintes nas feiras do que as esmolas que sustentam Maria Banga (sua esposa louca, vidente e santa-viva) e sua penca de filhos.
Chico Folote: Cego afamado; harmoniosamente místico e profano; líder de bordel e consumidor voraz das mais antigas profissionais do mundo. Homem que virou santo,... e virou rei.
Telles Júnior: Estereótipo do intelectual do interior; mistura perfeita de premonição divino-astrológica e empirismo científico; solitário e meditador, sabendo que é, sem precisar de autopromoção, o mais iluminado no meio da plebe rude e dos intelectuais medíocres do lugar.
Natanael: Viajante vivido e sagaz; sabedor de tudo; polivalente e namorador; líder natural (“comandante” dos comandantes); negociante sabido e embromador.
Joaquim Sapateiro: Militante marxista; vocacionado para a Revolução e a Ditadura do Proletariado; sofrido das mãos dos reacionários e da polícia política; idealizando transformar o município de Palmares-PE, palco dessa história, numa Moscou brasileira e comunista.
Amara Brotinho: Dama no bordel e nos altos escalões do poder; “fera” na cama e na liderança de seu povo; um coração valente e amoroso ligado a um sexo sempre aceso.
            Toda essa trupe (e muitos outros) voltada e preparada para o Reino da Besta Fubana, que está por vir. Em peripécias que fazem o leitor “bolar” de rir, vai desenhando a bela geografia humana do Nordeste, no ano de 1953, tendo como epicentro a Zona da Mata Pernambucana.
            Revolta das quengas, insurreição dos pequenos comerciantes, guerra à Madre Igreja; tudo isso expressando a força, a fé, a hilaridade e o jeito peculiar de o nordestino enfrentar a vida e o mundo, revelando um novo povo, uma nova sociedade.
            Obra profunda e culta, que trata das necessidades do corpo e das indagações da alma. Para se ler devagarinho, saboreando cada passagem, cada linha,...
            Chegará o dia em que esse livro será convertido em produção cinematográfica e/ou seriado televisivo, para deleite de todos e felicidade geral da Nação e da Arte. Viva a Besta Fubana! Viva a genialidade de Luiz Berto!

TEIXEIRINHA ALVES
  

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