domingo, 21 de setembro de 2014

ERA PATATIVA DO ASSARÉ UM GÊNIO SEMIANALFABETO?


 "PATATIVA DO ASSARÉ NÃO ERA ANALFABETO

 [...] O poeta Arievaldo Viana teria dito em entrevista que Patativa não era analfabeto. Hoje, trago trecho do livro CORDÉIS, de Patativa do Assaré, o qual é iniciado com um texto de Luiz Tavares Júnior – professor do Curso de Mestrado em Letras da Universidade Federal do Ceará – no qual o autor confirma essa afirmação de Arievaldo:

“Embora sua instrução formal tenha sido muito diminuta, seu contato com os livros foi constante e permanente, tendo convivido intensamente com a poesia de Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu, Castro Alves e a prosa de Coelho Neto, como afirma Luzanira Rego, a partir de uma visita à casa do poeta, ao se deparar com os livros desses escritores; e Rosemberg Cariry vai um pouco mais além, ao enunciar: ‘Patativa é homem que sabe ler, de muitas leituras e informações sobre o que acontece no mundo (...). Basta dizer que, mesmo quando Patativa era violeiro e encantava os sertões com o som de sua viola e a beleza de seus versos de repente, já estudava o tratado de versificação de Guimarães Passos e Olavo Bilac e lia Os Lusíadas’. Em face dessas afirmações e, se acrescentarmos que, de fato, estamos diante de uma pessoa de inteligência invulgar e espantosa memória, como sempre afirmam seus biógrafos, haveremos facilmente de compreender a grandiosidade de seu engenho e arte no manejo do verso e na criação de sua poesia, atestado por quantos se aproximam de sua obra, aqui, no Brasil, como no estrangeiro”.

Percebe-se, portanto, que Patativa agia deliberadamente quando escrevia na forma matuta presente em Aos Poetas Clássicos


Poetas niversitário,
Poetas de Cademia,
De rico vocabularo
Cheio de mitologia;
Se a gente canta o que pensa,
Eu quero pedir licença,
Pois mesmo sem português
Neste livrinho apresento
O prazê e o sofrimento
De um poeta camponês.

O fato é que Patativa foi realmente um fenômeno, desses que aparecem a cada século, quando muito. Basta fazer uma pesquisa com o nome “Patativa do Assaré” no Google para ver a imensa quantidade de páginas que se dedicam a ele. Eu, aliás, fiz isso hoje, e achei coisas interessantíssimas, como, por exemplo, o estudo 
“Relações entre Estética, Hermenêutica, Religião e Arte”, de Cristiane Moreira Cobra.
Também encontrei o divertido poema da Prefeitura sem Prefeito:


PREFEITURA SEM PREFEITO

Nessa vida atroz e dura
Tudo pode acontecer
Muito breve há de se ver
Prefeito sem prefeitura;
Vejo que alguém me censura
E não fica satisfeito
Porém, eu ando sem jeito,
Sem esperança e sem fé,
Por ver no meu Assaré
Prefeitura sem prefeito.

Por não ter literatura,
Nunca pude discernir
Se poderá existir
Prefeito sem prefeitura.
Porém, mesmo sem leitura,
Sem nenhum curso ter feito,
Eu conheço do direito
E sem lição de ninguém
Descobri onde é que tem
Prefeitura sem prefeito.

Ainda que alguém me diga
Que viu um mudo falando
Um elefante dançando
No lombo de uma formiga,
Não me causará intriga,
Escutarei com respeito,
Não mentiu este sujeito.
Muito mais barbaridade
É haver numa cidade
Prefeitura sem prefeito.

Não vou teimar com quem diz
Que viu ferro dar azeite,
Um avestruz dando leite
E pedra criar raiz,
Ema apanhar de perdiz
Um rio fora do leito,
Um aleijão sem defeito
E um morto declarar guerra,
Porque vejo em minha terra
Prefeitura sem prefeito.

A sua morte, em 08 de julho de 2002, deixou órfãos todos os poetas populares do Brasil. 

Texto editado, disponível em http://olhosdoaprender.blogspot.com.br/2012/08/patativa-do-assare-nao-era-analfabeto.html

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