sábado, 1 de novembro de 2014

PRA QUE TANTA RIQUEZA SE A PESSOA NADA LEVA DAQUI PRA SEPULTURA?


Pra que eu com mansão num litoral
Se num rancho tá bom, num pé de serra?
Se eu fizer playground aqui na Terra
Lá no céu vai faltar material
Minha escola maior foi o Mobral
O meu livro tem sido a Escritura
Pra que eu estudar literatura
Se a Palavra de Deus me aperfeiçoa
Pra que tanta riqueza se a pessoa
Nada leva daqui pra sepultura?

Muitas vezes, sozinho, eu me pergunto:
Pra que tanta riqueza se depois
Que o caixão encostar e couber dois
O amigo melhor não quer ir junto?
Pra que cara fragrância se o defunto
Não exige perfume da “natura”
Mesmo a alma é cheirosa quando é pura
Mas o cheiro do corpo ainda enjoa
Pra que tanta riqueza se a pessoa
Nada leva daqui pra sepultura?

Pra que casa cercada por muralha
Se a cova é cercada pelo pranto
Se pra Deus todos têm do mesmo tanto
Tanto faz a fortuna ou a migalha.
Pra que roupa de marca se a mortalha
Não requer estilista na costura
Se o cadáver que a veste não procura
Nem saber se a costura ficou boa?
Pra que tanta riqueza se a pessoa
Nada leva daqui pra sepultura?

Pra que eu toda hora dar balanço
No que eu tenho ou andar atrás de bingo
Pra que tanta hora extra no domingo
Se Deus fez esse dia pro descanso
Pra que eu trabalhar igual boi manso
Se a chibata do dono me tortura
Pra que eu reclamar da minha altura
Se o que a mão não alcança, Deus me doa
Pra que tanta riqueza se a pessoa
Nada leva daqui pra sepultura?

Não sou dono de ônibus nem de trem
Mas enquanto eu puder me locomovo
Pra que eu invejar um carro novo
Se o transporte final nem rodas tem
Nem me avisa dizendo quando vem
Mas só anda na minha captura
Bem abaixo da sua cobertura
Ele tem quatro asas, mas não voa
Pra que tanta riqueza se a pessoa
Nada leva daqui pra sepultura?

Pra que eu com dois olhos na barriga
Se os da cara já são suficientes
Pra que eu invejar os meus parentes
Se já sei que o retorno é uma intriga
A formiga que evita ser formiga
Cria asas, se torna tanajura
Cresce a bunda demais, cria gordura
Fica muito pesada e cai à toa
Pra que tanta riqueza se a pessoa
Nada leva daqui pra sepultura?

Pra que eu inventar de ser afoito?
Se não tenho coragem pra vencer?
Pra que eu comprar queijo sem poder
Se na mesa tem pão e tem biscoito?
Pra que eu colocar um 38
Entupido de bala na cintura?
Se a razão é a arma mais segura
Que sossego melhor não tem coroa
Pra que tanta riqueza se a pessoa
Nada leva daqui pra sepultura?

Autor: Poeta Zé Adalberto de Itapetim, PE

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