domingo, 19 de abril de 2015

Cordelzinho narcisista - Rogério Almeida



Sou vaqueiro, tradutor
navegante, seresteiro
caçador e pé-de-cana
vigário raparigueiro
mentiroso, escritor
democrata ditador
bom beato e mau zagueiro
comedor de tapioca
repentista sem viola
pescador e garimpeiro
dançador de xote e polca
sommelier de taboca
cantador e rabequeiro
taxista e feirante
pai-de-santo retirante
ermitão itinerante
rapsodo e até padrinho
de menino véi buchudo
ordenança de ceguinho

Quando amanso burro brabo
meto a espora e solto o arreio
chega o bicho dá pinote
da altura de um coqueiro
planto milho na invernada
colho fava em fevereiro
e na hora do aperreio
lá na serra da Tapuia
pego uma macaúba
três pitombas
rapadura!
de farinha, uma cuia.

frito um ovo de codorna
que é pra dar a frevioca
abro a boca da cabaça
bebo a água que é de graça
mais gostosa que já vi
do jeitinho da morena
que só brota na nascente
lá no alto, minha gente
das serras do Cariri!

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