segunda-feira, 31 de agosto de 2015

QUEM SOU EU?? - Cláudia Borges


Eu nascí nas areias do deserto,
beduíno, errante do destino
entre mundos paralelos, peregrino,
se sou homem, mulher...não sei ao certo!
os meus pais foram, rima trova e verso
meus irmãos, se perderam no caminho
eu, um pássaro solitário sem ter ninho
a procura do que? não sei ao certo...

Sou a bala que acerta e que não falha,
sou a mão que afaga o sofredor
minha língua, portadora do amor
corta mais do que aço de navalha,
sou o grito que a paz não atrapalha
provedora de prazeres, dor sem fim
escondidos estão dentro de mim
anjo bom, virginal...doce canalha

sou quentura nas noites de inverno
sou a brisa que sopra no calor
sou um anjo mortal, sou protetor,
sou pureza ou malícia do inferno
tal qual ursa, a seu tempo, eu hiberno
pra despertar como loba em pleno cio
uivando para a lua em desafio
nesse ciclo animalesco e eterno...

sou poeta que vive a fantasia
jurití que canta sua dor
alma errante, sedenta de amor
sou tristeza, sou dor, sou alegria
sou prazer que sufoca em agonia
sou a lágrima que brota num sorriso
sou o mal que te leva ao paraíso
eu sou trevas, sou luz, SOU POESIA!
ESIA!!
CLÁUDIA BORGES!!

domingo, 30 de agosto de 2015

CONTEMPLAÇÃO - Zé Ferreira


No Livro de Isaías,
lá no Velho Testamento,
vi uma das profecias
falar dum pobre rebento
que cresceu enraizado
em um solo ressecado,
regado por sofrimento.

Fechei a Bíblia pensando
nesse rebento franzino,
nessa terra ressequida,
nesse sofrer por destino...
percebi que a profecia,
no Brasil, acontecia
lá do sertão nordestino.

Depois da reflexão
Eu pude então entender
Muitas vezes no sertão
eu vi um Cristo morrer
Sem um "cantim de parede"
Sem matar a sua sede
Por descaso do poder.


José Ferreira dos Santos, o autor

O nosso povo no meio do mundo - Rosemilton Silva


As histórias que se seguem nesta narrativa não terá nome de algumas das personagens em função de puro esquecimento deste locutor que vos fala. São curiosidades de passagens que vivi ao longo do tempo e que, aqui e acolá, me retornam a lembrança meio cansada de guerra, não tão viva como há alguns anos atrás.
Pois bem, acho – lá vem a falta de memória – que por volta de 1974 estava perambulando pelo centro do Rio de Janeiro, próximo a Candelária e como já estava cansado de ir e vir sem ter o que fazer, resolvi “pegar um cineminha” com o dinheiro contado para voltar ao hotel mas com uma sobrinha para comer um pedaço de rapadura, coisa difícil de ser encontrada naquele local que não Feira de São Cristovão.
Como se dizia que a carteira de identidade de escotista dava direito a meia entrada comprei a dita cuja e parti pra cima do porteiro cheio de moral. O fulano, no seu uniforme bonito, todo cheio de botões dourados, olhou bem na minha cara e eu já fiquei ciente que não colaria o argumento. Ele, o porteiro, leu e releu a tal carteira e após os 40, 50 segundos disse: “Quem é este Manuel Ferreira da Silva?”. Eu, de pronto, respondi: “Meu pai. Está escrito aí”. Ele me olhou e sentenciou: “Olhe eu vou deixar você entrar por uma única razão: eu também sou de Santa Cruz”. Aí entendi a pergunta dele e disse “é Mané da Viúva”. Ele abriu um largo sorriso, e sentenciou: “Só tinha dois. Ou era Mané Pataca ou Mané da Viúva”. Esqueci o filme, ainda me devolveram o dinheiro e ficamos umas duas horas falando sobre a terrinha. Ele perguntando sobre todo mundo. E eu, não lembro o nome dele.
Houve um tempo em que Romualdo, meu irmão, resolveu se danar no meio do mundo. Passou por Brasília, na casa de Régia e Batista, foi vendedor de  loja e, por um destes caprichos do destino, foi parar em Manaus a convite de Neném e Gentil, filhos de Cícero barbeiro. Foi vendedor em farmácia mas acabou mesmo indo para Caracaraí, em Roraima, quando a cidade estava sendo construída.

Acabei aparecendo por lá, também. Determinado dia, ainda na construção da maior ponte do então território Federal, a Ponte dos Macuxis que atravessa o Rio Branco ligando Boa Vista a hoje municípios de Cantá, Normandia e Bomfim, eu e Romualdo fomos ver a obra de perto. E não é que um dos mestre-de-obras era um senhor do Paraíso!? E aí tome conversa sobre Pedro Severino, Antonio Mangaieiro, Faustino e seu misto, Cega Matilde na suas “Três bocas”, o alto do Cruzeiro, as cheias do Trairí, a travessia do rio numa balsa puxada no braço por uma corda estendida entre uma margem e outra ligando o centro – e só tinha o centro mesmo – ao Paraíso, principalmente nos dias de sábado, o dia da nossa feira... E eu não lembro o nome dele.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

José da Luz e Isaac na coletânea poética da UFRN

São Bento, Santa Cruz e o Trairi  estão de parabéns. O Prof. Dr. José da Luz e seu filho Isaac Luz tiveram seus poemas publicados pela UFRN. Nossos parabéns aos dois! 

Isaac, felicíssimo, escreveu o seguinte:


"Desde que foi anunciado que minha poesia, assim como a do meu pai, iriam ser lançadas em uma Coletânea de poesias da UFRN, não pude conter a ansiedade para data do lançamento. E aconteceu hoje, com muita felicidade, vi pela primeira vez algo que escrevi sendo publicado em um livro. O evento aconteceu na Galeria do Núcleo de Arte e Cultura da UFRN, onde os autores prestigiaram e receberam exemplares do livro "Histórias que se cruzam". Entre rostos desconhecidos, companheiros de curso, estava mais feliz por estar no meio de um grupo escolhido para esta publicação. Obrigado por esse pequeno passo, mas grande incentivo à arte da poesia." - Isaac Luz








Se eu tirar meu diploma de poeta Nunca mais cantador me desafia.

Mote de Hélio Crisanto, glosa de José Ferreira Santos


Eu aprendi a ler no Pajeú
Na cartilha dos três irmãos Batista
Nas rimas de Cancão gastei a vista
Fiz ginásio com Manoel Xudú.
pesquisei pelo vale do Assú
Santa Cruz lapidou minha poesia.
APOESC foi minha academia
E assim meu estudo se completa
Se eu tirar meu diploma de poeta
Nunca mais cantador me desafia. 

O meu nome não tem a referência
de um vate que seja antepassado
Minha escola, já disse, é o roçado,
é a vida e a minha consciência.
O meu vulto não tem a saliência
nem o sangue pertence a fidalguia
Mas se tenho na veia a poesia
Vou deixa-la fluir como um asceta
Se eu tirar meu diploma de poeta
Nunca mais cantador me desafia.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Pensamentos meus! - Claudia Borges




Ao olhar-me no espelho hoje cedo,
Encontrei uma mensagem bem singela
Escrita na íris do meu sonho
Fosco olhar tristonho dentro dela

Os olhos que o espelho refletia
Eu os vi, opacos e sombrios
retratos de meu interior
Recipientes sem vida e vazios

Vislumbrei nas pupilas dilatadas
Fantasmas que habitam o meu ser
Meus lábios desenharam um sorriso,
Vermelho escarlate de sofrer...

Nos recônditos de minha alma eu vislumbro
Um arco-iris sem cor sem fantasia ,
Jardim estéril que floresce
Nas estrofes "duma bela poesia!!

Claudia Borges

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Boemia - Chagas Lourenço


Boemia

Se eu soubesse:

que deixando de ser boêmio
não morreria;
Confesso:
com certeza deixaria.
Como sei:
que mesmo sem ser boêmio
eu morreria;
Afirmo:
vou morrer na boemia.

Chl

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Há um pomar escondido no coração da semente - Raimundo Asfora


Existe busca e assédio 

no beija-flor voador,

quando procura na flor 


essência para seu tédio

Mas como existe remédio


no veneno da serpente

na virgem flor inocente


há um desejo contido

E há um pomar escondido


no coração da semente.

Raymundo Asfora






domingo, 23 de agosto de 2015

SOU DA TERRA NORDESTINA - Coletânea poética

Parabéns ao poeta Gélson Pessoa por levar avante a ideia de produzir esta coletânea de tema único, composta por 76 poetas. 



Adquira a coletânea abaixo. Entre em contato conosco

sábado, 22 de agosto de 2015

O AI-5 - Rosemilton Silva




Era 13 de dezembro de 1968, dia de Santa Luzia. Algo em torno de 11 horas da manhã quando eu e Padre Raimundo – nunca me acostumei a chama-lo de Monsenhor -, voltávamos do Instituto Cônego Monte em direção a Casa Paroquial pela Rua Cosme Ferreira Marques. Falávamos de coisas do dia-a-dia do Instituto e da Paróquia. De repente, no rádio da casa de um tio do professor Ribeiro, dono de um posto de gasolina antes na Praça Ezequiel, soou a voz de Gumercindo Amorim anunciando uma edição extraordinária.

Gumercindo, que eu conhecia bem por ter sido meu professor de matemática moderna no Ginásio Agrícola de Currais Novos, era um inovador com seus gizes coloridos nos ensinando o que, na época, se chamava matemática moderna. Mas vamos ao que interessa. Gumercindo anunciava que o governo do general Costa e Silva baixava a Ato Institucional nº 5 (AI-5) que, entre outras medidas, tolhia ainda mais os direitos de cidadãos e políticos conforme a redação do ministro da Justiça Luiz Antonio da Gama e Silva.

Ficamos estarrecidos mesmo sabendo que havia um clima tenso naquele ano do “É proibido proibir” depois que o deputado federal Márcio Moreira Alves, do MDB, na Câmara, nos dias 2 e 3 de setembro, lançou um apelo para que o povo não participasse dos desfiles militares do 7 de Setembro e para que as moças, "ardentes de liberdade", se recusassem a sair com oficiais. Na mesma ocasião outro deputado do MDB, Hermano Alves, escreveu uma série de artigos no Correio da Manhã considerados provocações.

Lembro da frase de padre Raimundo tão logo terminada a leitura da notícia; “agora fechou-se o belém”. Ele gostava de dizer isto quando tudo parecia ser uma discrepância sem limite. E valia a preocupação dele. A igreja, que já vinha implementando a Teoria da Libertação, e quem conheceu Padre Raimundo naqueles tempos sabe bem do que estou falando, começava a combater o regime de exceção e buscar a liberdade dos oprimidos.

Dois dias antes, portanto 11 de dezembro, um norte-rio-grandense nos dava o alerta do quão grave estava a crise no Congresso Nacional. Naquele dia em uma das situações mais crítica para o Congresso Nacional, a Câmara dos Deputados discutia o pedido de licença, formulado pelos generais na ditadura de então, para processar o deputado Márcio Moreira Alves, por conta de um discurso considerado ofensivo às forças armadas.

A votação foi precedida de um discurso do deputado norte-riograndense, Djalma Marinho, jurista de renome e presidente, há anos, da Comissão de Constituição e Justiça. Egresso da UDN, partido que respaldou o Golpe Militar de 1º. de abril de 1964, integrava a ARENA, o partido dos generais.

Em seu discurso, Djalma ressaltou os seus vínculos com o regime dominante, falou dos riscos que recaiam sobre ele, pessoalmente, bem como sobre o Congresso Nacional. Destacou, no entanto, que a sua formação jurídica e democrática o impedia de aceitar o pedido dos militares ao concluir com a frase do teatrólogo espanhol, Calderon de La Barca “Ao rei tudo, menos a honra”. O Congresso negou a licença pedida pelos generais. O gesto foi o pretexto para a adoção do Ato Institucional No. 5, de famigerada lembrança na história do Brasil. O Congresso foi fechado. Resultado: Djalma, que não tinha recursos, precisou procurar trabalho como advogado, profissão que não exercia há décadas. Sobreviveu com sua família. Não maculou a sua história e continuou um homem honrado.

Você, que é santa-cruzense, pode até estar se perguntando o tudo isto tem a ver conosco? Pode parecer que nada, mas era mote de nossas discussões na Casa das Irmãs de Notre Dame de Paris, na Casa Paroquial ou no Instituto Cônego Monte.


sexta-feira, 21 de agosto de 2015

RARA ENTRE MARIAS - Carlos Medeiros (Cacau)


És tão rara entre Marias
No poente gentil desse teu olhar.
Que alivia esse ermo desejo de ti
Me Descobres vivo por sentir teu respirar.


Fez-se a mim em composição
Resoluto tornou-me quando avistei a dor
Dor essa que me deixavas sobreviver
Com suspiros de Ti em doce ardor.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

HOMENAGEM A JOÃO MACAMBIRA - Gilberto Cardoso dos Santos

 Uma singela homenagem a João Antônio Medeiros, idealizador do Espaço Avoante, aniversariante do dia.



João Antônio Medeiros
Currais novense brilhante
sem recursos financeiros
fez uma obra gigante
é o idealizador
projetista e construtor
do belo Espaço Avoante

Macambira é uma planta
da caatinga, resistente
dificuldades suplanta
em meio à seca inclemente
tal como João Macambira
que a quem o conhece inspira
devido ser persistente.

Não é um homem saudável
porém tem muita energia
é um guerreiro indomável
que a todos nós contagia
sua fala é pouca, contida
porém repleta de vida
não restrita à teoria.

João  Antônio, conhecido
como João Macambira
um carinhoso apelido
para alguém que tanto inspira
irá  entrar pra história
e ficará na memória
do povo que o admira.

















Professor que decidiu
em suas limitações
dar ao poder arredio,
às artísticas expressões
e ao ser humano em geral
uma “aula” magistral
e a mais bela das lições.

João nos serve de exemplo
De altruísmo e ousadia
Com a construção desse templo
Dedicado à poesia
É mais um João precursor
Um profeta de valor
Que bons tempos anuncia.

Noventa e sete por cento
dos gastos da construção
saíram de seu sustento
da venda e da produção
de quadros que ele pintou
João, de fato, se doou,
deu-se à Arte em oblação.


















Ele, que já brilharia
simplesmente sendo artista
também se consagraria
como grande apologista
da arte seridoense
um norte-rio-grandense
generoso e otimista.


Que todos nos inspiremos
No exemplo que nos deu
E de algum modo busquemos
Romper as grades do eu
Pra que o mundo agonizante
Seja um espaço avoante
Como o Cosmos o concebeu.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

SAUDADE - Chagas Lourenço

Igreja Matriz de Santa Rita de Cássia- Santa Cruz
Foto de Hugo Macedo. 

Esta palavra saudade
aquele que a inventou,
no momento que o fez
com toda certeza chorou.

Ela descobre a tristeza
que a nós vem abater,
porém quem não sente saudade,
não sabe o que é viver.

Depois vem o encontro
que a saudade derrota
se não houvesse saudade
seria uma alegria morta.

A distância e o tempo
são cúmplices da saudade
sem isto não haveria sonho,
mas só a realidade.

A realidade crua
sem surpresa, sem emoção
seríamos almas de pedra
não teríamos coração.

Sonhamos com o amor
cantamos o amor
vivemos o amor
mas, sentimos grande dor.

Nem todos fazem o bem
nem todos seguem a maldade
nem todos são corajosos
mas todos sentem saudade.

Uns se entretêm com bebida
outros com certas manias,
eles se valem das lágrimas,
eu me valho da poesia.




Chl
Rio de Janeiro

Jun/1967.

Sussurro de mim - Ismael André

Sereno da noite Despoja-se em mim Trazendo do além Ternura sem fim Corrompe meu ser De paz saliente Instigado de amor Singelo e evidente Reluz o calor Que aquece, extermina O mal conduzido De baixo, de cima Ilumina minh‘alma Apesar de incolor Dissipando de mim Todo ódio, rancor Inspira meu ser A novo começo, uma nova vida, um novo pertenço!!!
Domingo, 16 de agosto de 2015, às 22h55mi