domingo, 31 de maio de 2015

Rotina nordestina (CARLOS DANILO DA SILVA TEIXEIRA)


11/04/2015
MEU NORDESTE NORDESTINO DA SECA FORTE E FERRENHA DO MEU TEMPO DE MENINO Á ESPERA QUE O INVERNO VENHA.
DOS CURRAIS CHEIOS DE GADO DA VIDA DO TANGEDOR QUE LEVA UM ENORME FARDO EM SER VAQUEIRO DO DOUTOR.
DOS CERCADOS SEMPRE VERDES DAS ALGAROBAS SOLITÁRIAS CANTADAS NOS MEUS ACORDES E DAS FORMIGAS OPERÁRIAS.
DO GADO FRACO E MAGRINHO SOLTO NO MUNDO AO LÉO A PROCURA DE UM CAMINHO PRA O MAIS LINDO VERGÉL.

sábado, 30 de maio de 2015

QUANDO ACABO DE ESCREVER (Raymundo Salles)



Quando acabo de escrever
um verso, uma trova, um poema,
sinto que acabo de erguer
uma casa de fonema,
o som, a matéria prima,
a alma, a palavra, a rima,
e amor como argamassa,
mas nunca que acho perfeita
a obra depois de feita,
por melhor mesmo que a faça.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

SAUDADE - Layze



Saudade é areia ressequida
Soprada nos olhos da gente
Que arde queimando a vida
Turvando o olhar de repente
Saudade é toda essa lida
De chorar pelo ser ausente.


                              (Layze Danyelle)

quinta-feira, 28 de maio de 2015

DE BESTA OU DE CARRO? - Joel Canabrava


O nosso idioma é incrível; é um panapaná de borboletas, claro; não é homogêneo e varia muito, dependendo da época em que vive, sexo, idade, grupo social, região em que mora o falante etc. A língua é isso;  esse prisma que reflete o falante e que espelha a cultura; é coisa admirável e bonita  de se ver: sotaques mil, vários modos de usar alguns enunciados, os variados significados de determinadas palavras podem inclusive causar estranhamento; isso é a língua viva, é cultura! É bem verdade que o idioma é um só, mas até que poderiam ser vários...
Para a mesma coisa inúmeros nomes - mandioca, aipim, ou macaxeira; tiara, diadema, atraca; ou um nome que pode significar coisas totalmente diferentes – bicha e rapariga não soam tão mal em Portugal como no Brasil. O poeta e cantador Jessier Quirino para uma mesma palavra fez uma música inteira – matuto doente das partes – começa assim “no tronco do ser humano/nos finar mais derradeiro/tem uma rosquinha enfezada/que quando tá inflamada/incomoda o corpo inteiro” e descreve “bufante, frescó, apito, bozó, furico, fedegoso, piscante, pelado, boga, fosquete, frinfa, sedém, ficha, vintém, ás de copas, foba, oi de porco...” -; enfim, a  língua é essa coisa que une os falantes, desune, faz a sociedade andar e desandar; faz ri e faz chorar; convence, informa, explica....E complica também.
Meu primo Elvis lá do interior, criado na roça, desenvolvendo com maestria a agricultura e, também a pecuária da grande fazenda composta  de dez rezes; acostumado com o linguajar do campo e do vaqueiro; pião, boi, vaca, jumento, burro, cavalo, égua... foi com muito entusiasmo para a cidade grande; afinal nunca tinha ido e queria conhecer aquele mundo diferente.
Depois de algumas horas de relógio, sua mãe e ele chegavam  na cidade e já se encontravam na casa de uma parente – a madrinha de Elvis. Combinaram de ir ao centro da cidade para  fazer algumas compras. Saíram de casa e foram até a primeira parada de ônibus.
***
Dependendo da região, dos tipos e configurações, o transporte público pode ser conhecido por ônibus, coletivo,  alternativo,  lotação, van, topic, Kombi, perua, besta....
***
Pois bem, no caminho da casa até a parada de ônibus,  as duas comadres vão conversando sobre coisas diversas, inclusive  sobre os perigos da cidade grande – por isso comadre – diz a madrinha de Elvis – a gente não vai pegar  mototáxi, não. É mais seguro a gente ir de besta.
Puxando na saia de sua mãe e com os olhos cheios de lágrimas, Elvis com a voz trêmula, inocentemente diz:
- Mãe, eu num quero ir de besta não; eu quero ir é de carro.


SAINDO DA MATRIX - Cecília Nascimento



Hoje estou especialmente arrasada comigo mesma... Lembra do filme, quando Neo sai da Matrix e retiram-lhe os eletrodos e ele começa a viver pela primeira vez fora da ilusão virtual, mas cheio de dor e de buracos? Pois é, é assim que eu me sinto agora... tendo um tubo retirado de cada vez e começando a viver um pouco por dia, esburacada. Provei a vida e tem sabor amargo! Mas os tubos já não me cabem mais, nem que eu quisesse repô-los. Preciso seguir adiante!
Como pude viver trinta anos dessa maneira? Descobri que a ingenuidade tem prazo longo, podendo durar a vida inteira e que é fatal, podendo tanto matar o corpo como fazer perecer a esperança de muitos. Eis uma praga incomparável, que arrasa vidas e destrói sociedades: a ingenuidade! Ela mesma, essa que é capaz de te cegar de tal forma que podes caminhar facilmente à boca dos leões como quem caminha por um jardim florido e pode fazer com que arrastes contigo até aqueles que já não padecem desse mal, dadas as consequências dos estragos promovidos.
O Mestre nos alertou para sermos “simples como a pomba e espertos como a serpente”, coisa que para mim até hoje foi muito custosa; sempre fui afeita ao quixotismo e olha aonde vim parar, sempre medindo as pessoas por aquilo que dava de mim, não atentando para as possibilidades que habitam nossa carne, a de todos nós, sem exceção. E eu, que tenho a cobra cega no nome, não aprendi a lição das serpentes tão cedo quanto gostaria...
Espero, após tantos estragos já curtidos e promovidos, aprender de vez o caminho das pedras, pois já tenho matéria prima suficiente para construir um império de stonehenges, cercado por uma queda d’água digna das Cataratas do Niágara, só que de lágrimas, as velhas companheiras, porque não sou hiperbólica nadinha, só traumática.
Mas, a essa altura do curso das coisas, o saldo negativo ainda é maior que o benefício da visão. O medo compõe poemas que não ouso declamar para mim mesma, mas também não me vejo lendo outra coisa. Medo de confiar; medo de me doar; medo de ser o que sempre fui; medo de não ser mais nada de que eu possa me orgulhar; medo de descobrir que nunca tive nada para me orgulhar; medo de perceber que nada foi verdadeiro; medo de ser justamente aquilo que sempre detestei e medo de constatar que não há outra maneira de viver senão esta... Os temores da timorata renderiam um novo livro, com final impreciso, ao contrário do de Seis Vezes Lucas. O livro Trinta Vezes Cecília exigiria muita paciência dos leitores e não sei se ao final da leitura, o esforço valeria o enfado; se algo resultaria proveitoso de tantas ilusões jogadas ao pobre papel, indefeso contra minhas insanidades. Esse exercício de descrever-me é talvez a única salvação para minha mente cansada e enfadada da ressaca da vida. Mais um tubo se vai. Dor.

Cecília Nascimento
28/05/2015 – 00h16min.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Não sei se era amor - Ismael André


Uma noite eu fiquei
O céu a observar
Escorrendo no recanto
Lágrimas a rezingar

Uma vez você me disse
Que podia esquecê-la
Que você amava outro
Com isso, eu iria perdê-la

Meu coração esmagou-se
Tamanha foi a dor recebida
Minha alma hesitava
A sua lúgubre partida

Eu fiquei a fazer sonhos
Ou melhor, a desfazer
Tudo o que tinha devaneado
Só por causa de você

Pensei em mudar de mundo
Mas isso não era conveniente
Pois descobri que tudo isso
Não suprimia meu sofrimento

Dias se passariam
Algumas me procuravam
Você estava em mim
Era o que sempre falava

Resolvi te esquecer
Pra livrar-me do momento
Pois não adiantaria
Ficar neste padecimento

Quando eu estava em outra
Lá você me procurou
Dizendo-se arrependida
Que o seu namoro acabou

Para mim continuou a ser
A mesma grande tempestade
Nada pra mim mudou
De servo, pra majestade

Fiquei a me decidir
Acabei pro resolver
Ficaria com a que estava
Para amenizar o sofrer

Pois você não me amava
Como dizia antigamente
Eu, porém já não sabia
Se era amor, ódio ou tormento

Botei um ponto final
E estou a lamentar
Pois ainda não aprendi
O significado de amar.


segunda-feira, 25 de maio de 2015

CONVITE DA ANLIC



O LUXO QUE VEM DO LIXO e campanha dos Escoteiros



O LUXO QUE VEM DO LIXO 
(Autores:
Francisco Diniz
Mariano Ferreira da Costa 
_________________________
[...]
PARA O LIXO VIRAR LUXO
CONTINUE RECICLANDO
A NATUREZA RELUZ 
SE ESTÃO LHE AGRADANDO
OU DO CONTRÁRIO, AGRIDE 
A QUEM ESTÁ LHE DESPREZANDO.

PRA LIMPAR O AMBIENTE
COMECE POR SUA CASA
NÃO JOGUE O LIXO NO CHÃO
NEM O FAÇA VIRAR BRASA
COLETE TUDO DEPRESSA
VEJA BEM SE NÃO SE ATRASA.

SE CADA UM FAZ SUA PARTE
E CUIDA BEM DA NATUREZA
REAPROVEITANDO O LIXO
VOCÊ PODE TER CERTEZA
O MUNDO SERÁ DIFERENTE 
E TERÁ OUTRA BELEZA.
[...]
COM UMA GARRAFA DE PLÁSTICO
A GENTE PODE FAZER
ENFEITE PRA PÔR NA SALA,
PARA O QUARTO DO BEBÊ,
LEMBRANCINHAS PARA FESTAS
E ATÉ CASA, PODES CRER.

ALÉM DISSO VOCÊ PODE
COM ESSE GESTO SALVAR
A VIDA DA NATUREZA,
A FRUTEIRA DO POMAR,
A ÁGUA DA CORRENTEZA
E O SEU BANHO DE MAR. 

EDUCAÇÃO AMBIENTAL,
ÉTICA E CIDADANIA
SÃO ASSUNTOS NECESSÁRIOS
NA ESCOLA TODO DIA
E SE O ALUNO ESTÁ CONSCIENTE
DEFENDE-OS COM ALEGRIA.
[...]


http://www.projetocordel.com.br/autores/ed_ambiental.htm

domingo, 24 de maio de 2015

Literatura - Manoel Guilherme de Freitas

Pegou-me, tocou-me
e não saiu mais!
É um sentimento forte, inquietante,
que brota e assola meus pensamentos, a saliência,
que só ficam os sãs.

A! literatura! Como gosto de você?
Pois consigo tecê-la, lapidá-la,
intensamente, de acordo com meus interesses,
bem como beleza,
que tu nos dá!

No seu ritmo cadente, quente, morno, não interessa,
já que vou levando, logo aumentando
a intensidade das rimas, que dão marcas, traços,
que sempre as divulgo,
através dos "eus",
de nossos destinos,

O que é isso?
É a literatura, que sempre rima
com os sons trilhados, tocados,
senão também sentidos, percebidos
nas nossas vidas!

sábado, 23 de maio de 2015

SAUDADE - Carlos Medeiros (Cacau)


Saudade é um sentimento indizível
é um alento de aflição permanente 
De sentir aquela ausência inevitável
De doer tanto quanto a própria dor latente.

As noites se tornam mais frias,
O tempo parece que já não faz sentido.
Aquilo que tanto almejava, delongas.
Seguindo firme a espera de um visto.

A ausência do ultimo cheiro sentido
Do sorriso não mais percebido
Da presença que já se foi 
Mas parece durar em tudo que vivo.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

PAISAGEM DO SÍTIO ALEGRE - Gilberto Cardoso dos Santos

à Profª Drª Sandra Kelly

Um cardeiro sempre armado
Contra os ataques de fora
A seca não o devora
Resiste o fiel soldado
O campinho improvisado
Aos rapazes esperando
Segue o mato atapetando
Ao chão que pede clemência
No jogo dessa existência
Nem todos saem ganhando.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Vício - Cecília Nascimento


***

Não mais beberei você!
Passarei longe do teu olhar...
Gritarei para não te ouvir...
Cantarei pra te repelir...
Sorrirei para te ignorar...
Mas se fechar os olhos
Voltarei a sonhar...
Vou me flagrar tentando te ligar...

E quando eu vir: Tarde demais!
Darei o primeiro gole...
Ouvirei tua voz de perdição!

Pobre do meu coração!
Não sei aonde vai parar
Co’este vício de te desejar...

(Cecília Nascimento)


***

quarta-feira, 20 de maio de 2015

DESABAFO DE UM GRANDE ARTISTA SANTACRUZENSE


Em mensagem enviada ao poeta Hélio Crisanto, Rosemilton (compositor santacruzense) escreveu o seguinte:

Bom dia, Mestre. Tudo bem?
Bom, estou enviando duas músicas para você ouvir. A primeira, "Eu Ví 

Deus" é letra minha com música de Jarlene Maria, uma curraisnovense boa 

de sanfona que você deve conhecer. Ela canta a música com Xangai na 

gravação.



A segunda, "Terra Seca" também é letra minha com música de Rogério do 

Maranhão que canta na gravação. Mas foi esta música que me tirou da 

composição no início dos anos 80. Estava voltando dos Estados Unidos e 

lendo o Jornal do Brasil quando me deparei com a capa do Caderno B cuja 
manchete era "Pixinguinha fora da MPB", de hoje minha amiga Ana Maria. 
Comecei a ler a matéria e ví que a escolha do grupo do MPB Shell, da 
Globo, tinha deixado de fora três compositores: Pixinguinha, Alam Brum e 
Rogério do Maranhão. Adivinha qual era a música? E meu nome não estava 
lá. Cheguei na casa de Jarlene, que na época morava no Rio, lá em 
Botafogo em frente ao Pinel, de lado do Canecão, e já a encontrei 
furiosa porque fora ela que me apresentara a Rogério. A noite, fomos 
encontrar com meu amigo Vital Farias, no Forró Forrado, onde tem um 
teatro na parte cima e Vital estava ensaiando para um musical com 
Geraldo Azevedo. Quando Vital soube do acontecido, nos disse: "Rogério 
vem aqui agora a noite". Esperamos. Quando o cabra me viu, quis 
arrifugá, mas já não dava mais tempo. Vital aberturou Rogério e disse: 
"Amanhã você vai na sociedade onde registrou a música e desfazer esta 
safadeza". Dito e feito. Mas ficou a mágoa. Parei de compor. Encontrei 
também, no mesmo dia, com Adelson Alves, no programa que ele tinha na 
Globo da meia noite em diante. E ele me disse que a música mais bonita 
que tinha ouvido naquele ano, foi "Eu ví Deus", mas teve que parar de 
tocá-la por determinação da direção da emissora. Fiquei satisfeita com 
as palavras de Adelson e a matéria do JB. Eu estava entre os melhores 
compositores. Mas isso nunca me subiu a cabeça. Pode parecer ufanismo 
tudo isto que estou lhe dizendo, mas é algo que precisava contar há 
muito tempo.



EU VI DEUS 


Eu vi Deus, tava tão bonito
Vestindo gibão
E chapéu de couro
Segurando o cavalo pelas rédeas
Se livrando do xique-xique e cardeiro

Correndo atrás do barandão
Touro macho fuçador e chifreiro
Mas Deus é macho ele é vaqueiro

Eu vi Deus tava tão perfeito
Enxada nas costas e de pé no chão
Avexado debaixo do imbuzeiro
Pois ele tem fome que nem nós
E o pior não é a fome do comer
O pior é calar pra não sofrer

Eu vi Deus e tava tão triste
Tava implorando pedaço de pão
Então ele disse para mim
Teu caminho é de dor e sofrimento
Tua terra é vida, é salvação
Relembra que eu sou teu irmão.

Eu vi Deus...

Letra: José Rosemilton Silva
Melodia: Jarlene Maria (Sanfoneira curraisnovense)



Ouça Terra Seca em nossa rádio APOESC


Terra Seca Letra: Rosemilton Silva Música: Rogério do Maranhão Tá tudo seco seo minino E só iscapa agora os granfino (x2) O sol já está a pino E o gado todo mufino (2x) O feijão qui nois come Há munto já morreu de fome (2x) Num tem água que ele tome E o roçado só tem nome (x2) Eita raça véia disgraçada Tuda cumida é o cabo da inxada (x2) O sertão é mesmo sofredô E nóis é mestre em passá fome (2x) Suportá sol e calô Cumida qui rico num come (2x) Eita raça véia disgraçada Tua cumida é o cabo da inxada (2) Ai alumia, clareia.

terça-feira, 19 de maio de 2015

A tal Chikungunya (Chico Cunha) - Peleja Virtual



Peleja virtual sobre a tal Chikungunya (Chico Cunha)
 
Hélio Crisanto e Dalinha Catunda
 
1 – Hélio Crisanto
Esse tal de chico cunha
Me deixou todo biqueiro
A boca sem paladar
Amarga que só pereiro
No corpo uma comichão
Parece até meu irmão
Que dormi num formigueiro.
2 – Dalinha Catunda
O meu fastio foi grande
Confesso perdi a fome
A virose que eu tive
Não me disseram o nome
Só sei que eu me maldizia
A dor no corpo explodia
Dor grande que nunca some.
3 – Hélio Crisanto
Não tem remédio que dome
A dor dessa quebradeira
Essa tal de dipirona
Já tomei de mamadeira
Minha amiga eu tenho dito
O ferrão desse mosquito
Vem me dando uma canseira.
4 – Dalinha Catunda
Parece uma brincadeira
Mas não tem quem aguente
Evite essa picadura
Para não ficar doente
O ferrão desse mosquito
È de fato esquisito
Pode até matar a gente.
5 – Hélio Crisanto
A gente fica impotente
Sem animação pra nada
O mocotó fica inchado
Nossa unha avermelhada
Amiga é grande a seqüela
Parece a febre amarela
Maltratando na calada.
6 – Dalinha Catunda
Eu fiquei foi acamada
Com um peso na corcunda
A dor se alastrou no corpo
Nunca vi dor mais profunda
Era uma dor infeliz
Subindo pelos quadris
Pegando o rego da bunda.
7 – Hélio Crisanto
A cada dia me afunda
Comadre é grande o castigo
Fazer esforço eu não posso
Se sair corro perigo
Já tive doença ruim
Mas o diabo do “chiquim”
Com essa peste eu me intrigo.
8 – Dalinha Catunda
Uma coisa digo amigo
Foi bem grande a desgraceira
Deu vômito e febre alta
Me acabei na Caganeira
Foi pior do que supunha,
Se foi mesmo Chico Cunha
Não gostei da brincadeira. 
9 – Hélio Crisanto
Já vivi muita tranqueira…
Enxaqueca e bucho inchado
Arroto choco e sarampo 
Já fiquei empanzinado
Já me lasquei na manguaça
Mas perante essa desgraça
Nada disso é comparado
10 – Dalinha Catunda
Eu pensei num resfriado
Quando a virose chegou
Tomei chá de tanto pau
Nem picão roxo curou
Fiz chá de folha e raiz
Tomava e pedia bis
Mas a peste me arriou.
11 – Hélio Crisanto
Minha perna fraquejou
No caminho do banheiro
Bateu-me um suor no rosto
Me atacou um banzeiro
Quando me vi no espelho
Meu olho estava vermelho
Parecendo um maconheiro
12 – Dalinha Catunda
Meu poeta companheiro
Debaixo do meu sovaco
Termômetro de plantão
Já fazia até buraco
Pra destapar meu nariz
Tive a ideia infeliz
Que foi de cheirar tabaco.
13 – Hélio Crisanto
Quase eu ia pro buraco
Poetisa me acredite
As juntas todas doidas
Me deu até faringite
Pra me livrar desse tédio
Se tiver algum remédio
Me dê ai um palpite.
14 – Dalinha Catunda
Se o colega permite!
Pegue caneta e papel
Pegue veneno de cobra,
Jararaca ou cascavel
Pegue abelha italiana
Misture tudo com cana
E tome junto com mel.
15 – Hélio Crisanto
É vitamina a granel
“brigado” por sentir dó
Roguei por todos os santos
Pra desmanchar esse nó
Se não servir como arma
Pra me livrar desse carma
Vou fazer um catimbó.
16 – Dalinha Catunda
Eu já fiz chá de jiló
Já fiz despacho em macumba
E já fui orar num culto
Com medo de ir pra tumba
Só falta fazer vodu
E rezar o sobrecu
Pra sair desta quizumba.
17 – Hélio Crisanto
Já tomei chá de zabumba
Mas nada de resultado
Chá de limão, alcachofra
Tomei anil estrelado 
Se me dirijo pra mesa
Me ataca aquela fraqueza
Com o corpo debilitado
18 – Dalinha Catunda
Poeta meu estado
É de mulher abatida
Minha calça anda folgada
A bunda ficou batida
A roupa está toda frouxa
Se eu tivesse uma trouxa
A bicha tava caída.
19 – Hélio Crisanto
Dessa doença bandida
Nunca mais quero provar 
Não desejo pra ninguém
Essa mazela pegar
A mulher é testemunha
Que esse tal de Chico Cunha
Veio pra me arrebentar.
20 – Dalinha Catunda
Eu só sei lhe reportar
Que sofri com essa doença
Dos trabalhos que eu fazia
Tive que pedir licença
Foi grande a agonia
Que eu passei a cada dia
Cumprindo essa sentença.
21 – Hélio Crisanto
Me vali de toda crença
Pra me livrar dessa inhaca
Sem poder dormir direito
Me levanto de ressaca
Tremendo o queixo de frio
Penso que estou por um fio
Nas mãos dessa urucubaca.
22 – Dalinha Catunda
Eu fiquei com a macaca
Desmaiei mas não morri
Vela na mão eu levei
Me disseram mas não vi
Um Chico Cunha qualquer
Nunca mata essa mulher
Da boca do padre ouvi.
23 – Hélio Crisanto
Mas valente eu resisti
Depois da grande perrela
Me sinto revigorado
Mesmo ficando seqüela
Pra recuperar os danos
Daqui pra setenta anos
Não desejo essa mazela
24 – Dalinha Catunda
Dois poetas sem tramela
Abusaram da mumunha
Pra falar duma virose
Que até já tem alcunha
Chikungunya é seu nome
Seu popular codinome
No nordeste é Chico Cunha.

Um trecho dessa peleja foi publicado no Jornal O Globo na reportagem que você pode conferir em

MEU LABOR - Carlos Medeiros


Trago o tormento, 
De tudo que não mais entendo.
Sorvendo instantes de dissabor
Do preço que me inutiliza na dor,
De sentir aquilo que me judia. 
Mas preciso de fôlego,
Para perseverar no meu labor. 

Permaneço constante, 
Dá vontade que me constrange
De reviver o que não posso mais
Daquilo que me apraz
De tornar o querer precioso
De apressar o talante gosto.  
Nisto que me faz. 

segunda-feira, 18 de maio de 2015

POEMA DE UM VERSO SÓ - Antoniel Medeiros


E foi Deus quem fez a primeira poesia. 
Trata-se de um poema com um verso só: 
por isso que se chama universo!

POEMA PARA CECÍLIA - Milton Júnior


 heart emoticon
Há um tempo de acaso que espero o teu alcance
Que me queiras atingido e mesmo quando descoberto.
Anseio o teu nome,
como a humilde canção da minha aldeia que lembra,
sem letra, fragilidade sonora ou sutileza musical,
a possibilidade...
Nele acontecem alegres os ramos que me trarás,
a luz dormente das flores,
a raiz de uma estrela
ou a ressequida semente partida - que seja – de um astro.
A minha aldeia é pequenina, só cabe a ti, a mais certa.
Adestrei a fonte cálida e arei o solo,
Plantei um arroio para aguar o corpo, aguardando-te.
Faremos infusões com o mel que dorme nas colmeias vazias,
comeremos das frutinhas coloridas que dermos à luz.
Apenas viveremos sem saber mais nada,
o que os nossos pais nos legaram sem consentimento.
(Milton Júnior)

domingo, 17 de maio de 2015

SE SAUDADE MATAR QUEM TÁ CARENTE VOCÊS VÃO ASSISTIR MEU FUNERAL



UM DESAFIO INTERESSANTE


Caro amigo e colega da NET:

Faço-lhe o seguinte agradável desafio:

Poste nos comentários um pensamento, máxima ou provérbio muito importante para você. Uma frase que julga linda ou bastante significativa. Pode até ser algo que a vovó dizia.

Começo com um de Voltaire:


sábado, 16 de maio de 2015

JOÃO BEZERRA, JOÃO DO VALE - por Gélson Pessoa



Extraído do livro




Início, Meio e Fim (Cecília Nascimento)



No princípio era a convivência.
A convivência exige tolerância. Ao tolerar dividimos espaços. Os cenários se compõem numa eterna pintura, cada um no seu lugar, tolerando-se.
O tolerar amadurece, transforma-se em aceitação. A convivência então, ameniza-se, indiferente, entretanto.
E ele aparece de supetão: O interesse! Perscruta o passado, atua no presente para inscrever-se no porvir. Nasce pois o coleguismo e a gente percebe que a cada dia está perdendo um pedaço de si que se reflete no outro e vai também assimilando partes deste: Antropofagia.
Ah, é! E há também os “laços amorosos” (chatíssimos!), que mudam a vida da gente que é uma beleza (para melhor ou para pior)!
Mas o que era início é já princípio de fim... E nos sentimos tão sozinhos que nem conosco mesmo nos damos nestes momentos de reflexão...
Sentimos a falta que nos farão aqueles que pousaram na foto da vida conosco... Foto esta que não eternizou... Está pouco a pouco se decompondo.
Uns já partiram. Nós continuamos, posto que saibamos que partiremos. Sentiriam saudades de mim? Que besteira esse sentimento de perda, melancolia... Dividimos espaços, palavras e até transportes... Mas somos somente nós em nós mesmos, nada mais! Ou talvez não seja só isso...
Perder o que não se tem foi invenção de quem? Pense numa coisa para doer!!!

(Cecília Nascimento)


***

quinta-feira, 14 de maio de 2015

WHATSAPP -


WHATSAPP

Adoro sair à noite
Bater papo, conversar
Acho ser mesa de bar
O lugar mais ideal
Levar um papo legal
Ouvir uma bela melodia
Falar sobre o dia a dia
Se aprofundar na amizade
Mesa de bar é na verdade
O berço da alegria

Antes do ZAP ZAP
Meu pensamento era esse
Agora é um desinteresse
Todo mundo carrancudo
Entra-se calado e sai mudo
Não há mais interação
É a maior confusão
É selfie pra todo lado
E eu de gente cercado
Me sinto na solidão

Agora na mesa de bar
Eu não sei onde me encaixo
Todo mundo cabisbaixo
Não pergunta nem responde
Lá todo mundo se esconde
Vejam só o que se deu
Nem a mulher percebeu
Quando eu disse vou embora
Fiquei esperando lá fora
Me digam, o que faço eu?

E o cantor coitadinho
Com ele ninguém interage
Canta e ninguém reage
Não rola nem uma emoção
Parece que um paredão
Foi erguido pra separar
E hoje a mesa de bar
Que abrigava o poeta
Abriga a alma inquieta
Nesse “ ZAPZAPEAR”

Disse-me minha mulher
Que se a situação me incomoda
É que eu estou fora de moda
Fora do mundo moderno
Sei que o que acho um inferno
Outros acham uma maravilha
Eu acho uma armadilha
Até onde vai a modernidade
Estou morando na cidade
Ou sozinho numa ilha?

 (Celso Cruz)