quarta-feira, 29 de março de 2017

O BOM CONSELHEIRO E O CRENTE RAPARIGUEIRO (Zé Ferreira e Hélio Crisanto)

Mais um trabalho engraçado feito com inteligência por Hélio e José Ferreira escrito com  competência que o real não alcança porque qualquer semelhança é mera coincidência. 
- Gilberto Cardoso dos Santos

Hélio Crisanto

Fundada em fatos reais
E de teor verdadeiro
Trazemos para o leitor
Do nosso Brasil inteiro
Uma história bem recente:
"O conselheiro e o crente
Que virou raparigueiro."

O crente, que era obreiro,
Nunca fugia da raia
Lutava contra a fraqueza
Tida por rabo de saia
Um dia se descuidou
O sapirico o tentou
E ele caiu na gandaia

Certo dia ele desmaia
De tanta fornicação
O encontraram caído
De calça ainda na mão
Foi salvo por um amigo
Que depois desse castigo
Fez nele um grande sermão:

BC

Você que era evangélico
Nas terras de Santa Cruz
Diz que virou agnóstico
Perdendo da vida a luz
Vi que deixou sua crença
Se metendo em desavença
Qualquer mulher te seduz

CR

Seu comedor de cuscuz
Saiba você me chateia
Olhar a vida dos outros
Isso é coisa muito feia
Virei sim raparigueiro
Vou gastar o meu dinheiro
Quem brincar entra na peia


BC

Não entre nessa cadeia
Não destrua a sua fama
Fica se degenerando
Levando puta pra cama
Hoje virou homem sujo
Parecendo um caramujo
Gozando dentro da lama

CR

Esqueça que vivo um drama
Não se incomode jamais
Pois sou um homem feliz
Gozando nos bacanais
Não me provoque fadiga
Namorar com rapariga
É prazeroso demais

BC

Tenho pena dos seus ais
Dessa sua vida astuta
O cabra só fala em quenga
Se esquece até da labuta
Não estuda e nem trabalha
Comete essa grande falha
Pra correr atrás de puta

CR

O diabo é quem lhe escuta
Pare de falar besteira
Saio de casa na sexta
Com uma “nêga” faceira
Passo um óleo na banana
Bebo, gozo, e torro a grana
Volto na segunda-feira








BC

Percorrendo a rua inteira
A conversa é uma só:
Você não olha os amigos
Nem abraça a sua avó
Não pisa mais na escola
Botou até meia sola
Na cabeça do cipó

CR

Meu amigo, tenha dó
Deixe de tagarelar
Eu sinto uma certa inveja
No seu modo de falar
Gozar nunca foi pecado
E como não sou capado
Eu vou é aproveitar

BC

Nunca mais te vi orar
Naquela casa sagrada
Você só passa zombando
Cuspindo o pé da calçada
Excomungando o cristão
Gritando alto pro irmão
Não caia nessa cilada

CR

Grito pois só tem fachada
Nessas casas de oração
É um magote de besta
Sustentando um charlatão
Por isso vou pro puteiro
Extraviar meu dinheiro
Pro pastor? Nenhum tostão.

BC

Fuja dessa tentação
Esqueça essa vadiagem
Cuide da sua família
Seja homem de coragem
Amigo volte a ser crente
O cão dorme no batente
De quem ama a sacanagem

CR

Homem deixe de bobagem
E de conversa comprida
Qualquer dia lhe apresento
Rosa, Dália e Margarida
É só dizer que aceita
Com as três você se deita
O resto é curtir a vida

BC

Caminho que só tem ida
Esse mundo de desgraça
Satanás anda contigo
Bebendo na mesma taça
Em troca de cafunés
Você deve aos cabarés
Sujando o nome da praça

CR

Me diga qual é a graça
Querer da vida o espinho
Preferir beber o fel
Ao invés de tomar vinho?
Nessa vida de labuta
Encontro na prostituta
Cafuné, gozo e carinho








BC

Esse seu pensar mesquinho
É algo que me apavora
Você esnoba da bíblia
Nem um capítulo decora
Quando cai num atoleiro
Procura um catimbozeiro
Pra ter alguma melhora

CR

Já viu como o crente ora?
É a maior gritaria.
Eles confundem oração
Com crises de histeria
Ter a Bíblia decorada
E dela não viver nada
Não passa de hipocrisia.

BC

Vamos deixar de ingrizia
Nesse papo renitente
Você não adora a Deus
Nem de Jesus é temente
Vamos deixar de pendenga
Nunca dei cartaz a quenga
Nem você gosta de crente

CR


Você é homem decente
E firme na sua fé
Mostrou-se ser um amigo
Com bons conselhos até
Pra essa arenga acabar
Você volta pro seu lar
E eu sigo pro cabaré.


domingo, 26 de março de 2017

E se a Vida fosse uma criança? - Jailson Carvalho


O tempo todo nos vemos em novos sorrisos que mais parecem olhares, sem terceiras intenções, o mel se desperdiça à medida em que a Vida pede, a sua Vida, a minha. Não há quem viva só no mundo. Porque dentro da gente, lá na subcarne da alma, sempre tem um monte de vozes gritando no silêncio de cada pensamento, e cada pensamento habita uma ilha suspensa dentro dessa “coisa que não tem nome, nessa coisa que é o que somos”, já disse Saramago.
Um dia desses, peguei meu tapete mágico e fui na ilha do pensamento saber, procurar alguma coisa, mesmo não sabendo exatamente o quê. Apenas fui, sabendo que de lá traria alguma lição pra mim ou talvez pra você que está lendo esse texto agora, enfim. Lá chegando aprendi sobre a Vida - a mesma que pede o mel e o desperdiça. Não só aprendi, como tive o privilégio de conhecê-la. Se eu pudesse descrevê-la de alguma maneira lógica ou o mais próximo disso, diria que a Vida era uma criança irritante, mimada, ao mesmo tempo doce, mas extremamente curiosa, que corria de lá pra cá, mexia nos móveis, nas paredes, nas pessoas, no passado, e nos demais tempos verbais. A Vida perguntava o tempo todo: Porque? Quando? Como? Ontem? Hoje? Daqui a cinco anos no máximo? Talvez mais? Talvez menos? Talvez agora? Posso falar? Posso calar? Posso mudar? Posso crescer? Querer ou desquerer? Conhecer ou desconhecer?
E no fim das contas nem a Vida sabia muito sobre si mesma, era só uma criança, que vivia sozinha entre ilhas suspensas imaginárias e o mundo vazio de dentro das pessoas, não sabendo como tinha chegado ali, indignada por não ter me tirado uma resposta concreta sequer, assoviou pra uma nuvem que passava, e tão rápido como sopra o vento mudando de direção, montou na nuvem e sumiu no infinito do céu.
Sua ausência me bateu um vazio, um incômodo amargo, meio aguado, meio… morto… Acordei! E não havia mais ilha, nem tapete, nem vento, nem Ela, nem nada. Mas a criança-Vida me ensinou, de um jeito estranhamente lindo, a se viver, a desperdiçar meu mel, devagarzinho, flor em flor. Nem que eu precise procurar por ela todo dia pra senti-la de novo, lá depois do horizonte, na hora do sol poente, quando dá pra vê-la passando na velocidade em que o céu muda de cor, sentada em cima de uma nuvem cinza chamada Tempo, a Vida sorri e acena pra mim.

Jailson Carvalho.
( 23/03/2014 )


sexta-feira, 24 de março de 2017

BORA ESPALHAR POESIA POR ESSE MUNDÃO AFORA




Bora falar do Sertão
E exaltar o Nordeste
Terra de cabra da peste 

Onde nasceu Lampião
Dominguinhos, Gonzagão
E o forró que o povo adora
Bora gente sem demora
Versejar com a alegria
Bora espalhar poesia
Por esse mundão a fora.


Jaci Azevedo disse:


O tempo que atravessamos
De caos e escuridão

De injustiça e opressão
Vem dos votos que plantamos
Um alento é versejar
Até essa nuvem passar
Saudosos dos tempos de outrora
Sonhar não é heresia
Bora espalhar poesia
Por esse mundão afora!

Edcarlos Medeiros ... disse:

De versos nos abastamos
Para a vida florescer
Não deixemos perecer
Tudo que já conquistamos
O país que nós amamos
A classe política explora
Em cada verso que aflora
Ameniza essa agonia
“Bora espalhar poesia
Por esse mundão afora”

Cicero Rocha  disse:

Vamos espalhar sem medo,
Cultura nesse ambiente,
E mesmo virtualmente,

Vamos mostrar nosso enredo.
De noite ou de manhã cedo,
De madrugada, "vombora",
Porque toda hora é hora,
Tanto de noite ou de dia.
"Bora espalhar poesía,
Por esse mundão a fora".


um diluvio de poema
pra enxarcar o marásmo
com a força dum orgásmo

mais agil que uma ema
a solução do problema
ta na nossa mão agora
poetas! chegou a hora
de semear alegria
bora espalhar poesia
por esse mundão afora

é sextilha, oitavão,
decassílabo e quadrinha,
septilha bem na linha,
com rima e oração
galope e até quadrão
pois o momento implora
vamos logo sem demora
transbordar essa bacia
bora espalhar poesia
por esse mundão afora

você que é cordelista
tome essa briga por sua
em praças vilas e rua
honrem o nome de artista
botem um assunto na lista
que a inspiração estoura
a poesia aflora
seja de noite ou de dia
bora espalhar poesia
por esse mundão afora.


Adriano Bezerra disse:

Mesmo com a nossa vida
Imersa em dificuldades
Com as dores, as saudades
e tanta coisa invertida,
Coma esperança perdida
Porque a lei não vigora
Como brasileiro que chora
Por causa da covardia
Bora espalhar poesia
Por esse mundão afora

quinta-feira, 23 de março de 2017

Os prós e os contras das invenções humanas - João Maria de Medeiros


Com o advento da revolução industrial, e ainda mais recentemente, com as descobertas de novas invenções, como o chip, por exemplo, a tecnologia vem modificando o comportamento e a vida  das pessoas, dos seres humanos.

Novas ferramentas de trabalho são criadas , recriadas e aperfeiçoadas; meios de transportes, de lazer, de entretenimento vêm surgindo para melhorar a vida humana.  Claro, que a um preço!

Mas não se pode deixar de dizer que há nestas invenções muitos pontos negativos. Vejamos algumas destas invenções, então e seus os pontos positivos e negativos:
 A televisão, umas das mais populares de todas, é um veículo de comunicação de massa, e como o nome já diz tem um enorme alcance nas camadas populares, como órgão informativo, formador de opinião e de entretenimento. Por outro lado, se não for bem utilizado pelo pelos telespectadores, pode acabar se tornando um veículo alienante a serviço das grande elites dominantes. Infelizmente, no Brasil, a TV tem servido bastante a este fim!

Com características bastante semelhante à televisão, o rádio tem sido útil também quanto  ao aspecto informativo das massas, mas por outro lado, as concessões de emissoras de rádios têm sido entregues às grandes oligarquias políticas ou empresarias, que as utilizam ao bel prazer, em benefícios próprios e como alienação das massas menos menos esclarecidas da sociedade.

Mais recentemente, surgiu um veículo poderosíssimo pela sua força de abrangência social. Este veículo bate de frente com o rádio, que vem perdendo força e com a televisão. Falo da INTERNET, que serve a sociedade de muitas maneiras, mas que seu uso requer bastante cuidados, pois nela há de tudo, inclusive crimes virtuais.

Uma outra invenção tecnológica moderna bastante popular  é o telefone móvel, como é chamado em Portugal o nosso querido celular! Acessível  a quase todos, é um equipamento muito útil. Hoje há celulares para quase todos os gostos. Quando surgiu quase "mata" a linha de telefone convencional.

Entretanto, o celular também apresenta pontos negativos. Um deles é o uso abusivo por alunos, durante as aulas por alunos. Isso fez com que alguns órgão legislativos criassem leis pra impedir seu uso durante as aulas.

Concluímos , então amigos, que as novas invenções modernas trazem grandes vantagens, mas como se vê há nelas também grandes desvantagens. Pelo menos,  assim é a nossa opinião

quarta-feira, 22 de março de 2017

Resenha da Antologia O CORDEL DA NOSSA GENTE (Gilberto Cardoso dos Santos)




Livro: Antologia O CORDEL DA NOSSA GENTE
Organizadores e revisores: Francisco Queiroz, José Acaci e Marcos Medeiros (Membros da ANLiC)
Gênero: Cordel (Antologia)
Edição: Offset Gráfica e Editora - 2017
Páginas: 133


A antologia O CORDEL DA NOSSA GENTE, do qual tive a honra de participar com mais 30 autores, surpreendeu-me positivamente. A ANLiC (Academia Norte-rio-grandense de Literatura de Cordel), caprichou na filtragem que fez de conteúdos e nos aspectos gráficos da obra. A diversidade de temas abordados, os estilos, a maestria de textos que perfeitamente atendem aos requisitos de “rima, métrica e oração”, tem potencial de agradar a todos os amantes do gênero. Trata-se de 31 cordéis, representativos da feição que adquiriu nos dias atuais - escritos por autores preocupados em adaptá-los aos novos tempos sem descuidar dos aspectos essenciais ao gênero, estabelecidos pela tradição. Trata-se, de fato, como sinaliza o titulo, do cordel de nossa gente.
A seguir, uma breve análise de cada um dos poemas que compõem esta obra, de acordo com a ordem em que aparecem no livro:

CARNAVAL EM CORDEL (Adilson Costa – Recife/ PE). Este é o primeiro cordel da antologia. Nele, o autor tem como tema o carnaval em seu estado (PE) e no restante do país. O eu poético, como em passes de magia, parece transitar livremente de uma expressão carnavalesca a outra, nos principais estados brasileiros.  É um cordel que expõe os encantos desta festividade nacional, apresentada sob uma ótica positiva. Nele, o autor não se;  limita a descrever, mas entremeia seu texto com percepções poéticas bastante lúcidas e traça paralelos entre a literatura de cordel e o carnaval.

O CANDIDATO (Agostinho Santos – Caicó/RN). O segundo cordel traz como tema a politicalha brasileira. De forma bem-humorada, o autor apresenta o que ocorre durante as campanhas – as estratégias utilizadas para enganar o eleitor. Aliás, cada estrofe inicia-se com o verso: “Quando é tempo de eleições”.

AS AVENTURAS DE TINA - A borboletinha feliz (Carlos Aires – Bezerros – PE). Trata-se de um cordel com temática voltada para a infância, endereçado às crianças, mas com potencial de despertar o interesse dos adultos, pois nele uma simpática borboletinha nos conta sua história de maneira cativante e nela podemos vislumbrar reflexos de nossa própria vida.

HEPATITE B, UM INIMIGO SILENCIOSO (Cláudia Borges – São Vicente/RN), de modo bem humorado, valendo-se de algumas expressões bem nossas e de uma didática brilhante, a autora busca conscientizar o leitor sobre os riscos que todos corremos quanto à Hepatite B. Trata-se de uma aula, mas de uma aula bem dada, com graça e leveza.

CARIRI DE “A” A “Z” – AS BELEZAS DO CARIRI PARAIBANO (Clotilde Tavares – Campina Grande/PB). Neste cordel, a autora expressa todo carinho que sente pela região onde nasceu; fala de suas origens culturais e familiares. Embora trate de aspectos geográficos e históricos do Cariri, a autora a isto não se limita: sua descrição transita entre o real e o imaginário. Do amor pela paisagem e cultura do Cariri, brota a força poética com que ela retrata lugares e personagens que se mantêm vivos em sua mente.

A CONTADORA DE HISTÓRIA E O CANARINHO CINZENTO – (Dalinha Catunda – Ipueiras/CE). Com habilidade, a poetisa entrelaça duas narrativas, a de um pássaro e a de sua tia, contadora de histórias. Trata-se de um gracioso e comovente cordel, capaz de prender a atenção de crianças e adultos.

SEMEIE BONS ATOS, FAÇA O SEU LUGAR MELHOR (Edcarlos Medeiros – Caicó/RN). Neste cordel, o poeta expõe, através de um sonho, a receita para que a vida em sociedade seja mais harmoniosa. O autor nos faz ver, com magistrais pinceladas poéticas, que nos aproximaremos mais e mais desse ideal à medida que nos fizermos sujeitos dessas transformações. Um cordel ideal para incentivar o exercício da cidadania.

AS AVENTURAS DE TILINO – Iniciação do Atirador de Baladeira (Francisco das Chagas – Pendências/RN). Com admirável habilidade, o autor descreve como se davam e ainda se dão as caçadas de baladeira no interior nordestino, através da narrativa de vida de Tilino, aprendiz do ofício. Trata-se de um cordel cuja leitura envolve o leitor do começo ao fim e o deixa com vontade de que o relato não termine ali.

XICO SANTEIRO (Gélson Pessoa – Santo Antônio do Salto da Onça/RN). Como grande divulgador da cultura popular, o poeta Gélson Pessoa escolheu um excelente nome para ser biografado. Com competência no gênero, o poeta nos apresenta a vida de um ilustre potiguar, mundialmente conhecido por suas habilidades na arte de esculpir. Sem dúvida, todo nordestino deveria conhecer a história deste potiguar brilhante e Gélson, ao optar por este tema, dá um importante passo que isso aconteça.

TEMPO DE FELIZ NATAL (Geni Milanez – Cerro Corá/RN). Um dos objetivos da literatura de cordel é o de registrar o modo de pensar próprio do povo – outro modo de interpretar o “da nossa gente” no título da obra. A autora, como legítima representante do Nordeste e da cultura cristã, tece belas reflexões a respeito desta que é a principal festa da cristandade.

LEMBRANÇAS (Geraldo Ribeiro Tavares -  Cajazeiras/PB). Neste cordel autobiográfico, o poeta nos conduz em seus devaneios poéticos sem preocupações com datas ou aspectos geográficos. Numa feliz escolha, o que lhe interessa é apresentar a essência do que viveu – sensações perdas e ganhos - e refletir sobre o sentido de sua existência.

A VINGANÇA DO POETA (Gilberto Cardoso dos Santos – Cuité/PB). Este cordel baseia-se em uma experiência tragicômica, vivenciada por mim e pelo poeta-cantador Hélio Crisanto. O leitor ligado às artes dificilmente não se identificará com a situação vivida. Trata-se de um cordel com potencial de provocar risos e necessárias reflexões sobre a (des)valorização do artista.

O FLAUTISTA ENCANTADO NO CONGRESSO NACIONAL – (Hélio Alexandre – Caicó/RN). O conto folclórico O flautista de Hamelin, mundialmente conhecido e tantas vezes reescrito, serve de base para a fábula produzia por Hélio Alexandre. Esta história fantástica, inteligentemente escrita, tem como protagonistas um flautista nordestino, dois repentistas, um vaqueiro aboiador e o famoso cordelista Antônio Francisco - imbuídos da missão de livrar a nação brasileira dos verdadeiros ratos, bem mais nocivos que os de Hamelin. Trata-se de uma crítica política bem tecida em versos que merecem leitura e releitura.

A HISTÓRIA DA ACADEMIA NORTE-RIO-GRANDENSE DE LITERATURA DE CORDEL – Da ideia à fundação (Hélio Gomes Soares – Brejo de Areia – PB). Feliz foi a escolha feita pelo poeta ao optar por este tema. Ninguém melhor que ele – idealizador da ANLiC – para nos falar sobre esta instituição. Sem meias verdades, o autor nos apresenta os altos e baixos do processo de formação da academia e de sua importância para a cultura popular no Rio Grande do Norte. Trata-se de um relato bem feito, útil a todos que se interessam pelo cordel.

FORRÓ, NORDESTE E SÃO JOÃO (Hélio Pedro – Caicó/RN). Neste cordel, o autor discorre em setilhas bem construídas sobre duas tradições próprias e imbricadas da cultura nordestina. São-nos apresentadas as tradições e descritas crendices próprias das festividades juninas, tão influenciadas pela cultura judaico-cristã.

MOMENTOS DO POETA (Ivaldo Batista – Carpina/PE). Neste cordel, o poeta Ivaldo nos presenteia com divagações poéticas preciosas. De fato, como anunciado no título, cada estrofe representa um momento que, como caco de um mosaico, se junta ao todo e forma um belo quadro.

O POETA E O COQUEIRO, E A PAISAGEM DA SERRA ( Xexéu – Santo Antônio do Salto da Onça/RN). Com a habilidade que lhe é peculiar, o poeta se aventura em sextilhas cujos versos ultrapassam a fronteira das sete sílabas. De forma magistral, expõe suas reminiscências, desenha a paisagem com frases bem escolhidas, eivadas de poesia.

AS AVENTURAS DO REI BARIBÊ – ADAPTAÇÃO DE CONTO DE MALBA TAHAN (Joaquim Furtado – Fortaleza/CE). Fugindo à constatação de que “quem conta um ponto aumenta um ponto”, o autor nos brinda com uma belíssima história, oriunda da cultura árabe. Se em nada altera a narrativa, faz com que o conto ganhe em beleza, pois com precisão o adaptou às regras do cordel.

A ÁRVORE DA VIDA (José Acaci – (Macaíba/RN). Neste cordel duplamente fabuloso, Acaci nos conta a história de um poeta que, posto frente à necessidade de tomar decisões para toda a vida, fez escolha errada das opções que lhe foram oferecidas e colheu frutos amargos. Trata-se de um alerta acerca do perigo de se viver uma vida vazia, em função da aquisição de bens materiais, e de um alerta àqueles que vivem da arte e muitas vezes se deixam levar pela ambição e sacrificam seus dons no altar do mercenarismo.

A VIDA DO AGRICULTOR SEM-TERRA (Josenira Fraga – Guaramiranga/CE). Neste belo cordel, ouvimos a voz de um agricultor que nos fala de suas venturas e desventuras nas mãos de patrões exploradores. Retrata com clareza e encanto a situação do homem do campo, desassistido pela elite governante, vítima de coronéis inescrupulosos.

ÁGUA, - IMPORTÂNCIA, CONSUMO E DESPERDÍCIO (Juarez Araújo – Osasco/SP). Como o título deixa entrever, trata-se de um cordel que visa conscientizar acerca do desperdício de água em uma época em que a natureza tem sido vilipendiada pela ganância e desrespeito do homem aos recursos naturais. Ao longo do cordel, dicas são fornecidas sobre como evitar o uso indevido da água. Trata-se de um apelo poético digno de ocupar espaço nos conteúdos escolares.

SERTÃO MAGIA (Manoel Dantas – Caicó/RN). Neste texto encantador, o autor nos apresenta diferentes imagens e percepções próprias do sertão. As estrofes, aparentemente soltas, vão se juntando e formando um belo quadro, como uma colcha de retalhos bem tecida. Real e imaginário se entrelaçam nas estrofes e o resultado é positivo.

ABC DE EDUARDO CAMPOS (Marciano Medeiros – Santo Antônio/RN). Neste cordel esteticamente bem construído, o poeta Marciano, fiel às raízes do gênero, conta-nos a história de uma importante figura política do Nordeste, de grande impacto nas decisões nacionais e que quase chegou à presidência. Sua trajetória pessoal e política, bem como seu trágico fim, nos são contados com fidelidade em estrofes cuja primeira letra do verso inicial sempre corresponde à sequência do alfabeto.

DONA CORA E SEU BORÉ, UM CASAL FEITO NA FÉ (Marcos Medeiros – Natal/RN) O cordel de Marcos Medeiros traz-nos a bela história de um casamento bem sucedido, fundamentado na fé e na perseverança. Trata-se de um exemplo de união digno de ser propagado, que se contrapõe a esta época de “amores líquidos”, de relações flexíveis e pouco duráveis.

SOBRE SUSTENTABILIDADE (Moreira de Acopiara – Acopiara/CE). Neste admirável poema, o autor expõe a dimensão ética da sustentabilidade. Conforme explica, sustentabilidade abrange todos os aspectos da vida e a reciclagem, tão essencial em nossos dias, deve começar pelo ser humano. Cordel digno de ser levado às escolas de todo o país.

A POLÍTICA BRASILEIRA NO SÉCULO XXI (Rosa Regis – Mamanguape/PB). Trata-se de uma bela dissertação em versos sobre o caos políticos que todos vivenciamos. A autora reflete sobre os escândalos na política nacional e busca conscientizar o (e)leitor acerca da necessidade de escolher bem em quem votar para que de fato possamos ver o Brasil renovado. 

SERTÃO DA POESIA: VIVÊNCIAS E INSPIRAÇÕES DE PATATIVA DO ASSARÉ (Sírlia Lima – Mossoró/RN). Feliz foi a escolha feita pela cordelista - a de versejar sobre a vida de Patativa do Assaré, ícone da cultura popular e poeta-modelo. Em linguagem acessível, são-nos apresentados os principais fatos da vida deste legítimo representante do povo, cuja fama ganhou repercussão internacional.

A PELEJA DA AGULHA E DA LINHA - Um apólogo de Machado de Assis (Stélio Torquato – Fortaleza/CE). Ao transpor para o gênero cordel o famoso apólogo machadiano, o poeta optou por costurar bem os versos – nenhum fica sem rima – e o fez de modo brilhante. Se já era bom lê-lo na prosa afiada de Machado, melhor ainda agora, concatenado em versos bem construídos.

UM CANGUARETAMENSE FELIZ (Tamires Macena – Canguaretama/RN). Em estrofes autobiográficas, o autor mostra-se grato pela passagem de mais um aniversário que parece ocorrer num momento importante para os amantes do futebol – a copa do mundo; nomina amigos que partilham desta alegria, de suas origens etc. Trata-se de um eu poético embriagado pelo gozo de ser o que é: um canguaretamense amado por muitos, que tenta expor em versos tão grande felicidade.

ODE À LEITURA (Thomas Saldanha – Natal/RN). Feito em sextilhas de rima fechada, o poema “Ode à leitura”, tem por objetivo provocar o interesse pelos livros e promover o letramento. Em um país com elevado número de analfabetos funcionais, caracterizado pela superficialidade dos conhecimentos, nada melhor que a leitura como antídoto para a degradação cultural que assola o país. Importantíssimo apelo, portanto.

A LENDA DE PROMETEU NA MITOLOGIA GREGA (Tonha Mota – Taperoá/PB). Através deste poema que narra o mito de Prometeu, a autora transforma em cordel uma lenda grega muito bem avaliada na literatura universal, difundida em várias versões e sempre em pauta nos estudos da Psicanálise. Através dele, temos oportunidade de ver na cultura grega traços em comum com as narrativas judaico-cristãs, como, por exemplo, o relato do dilúvio.

A leitura desta antologia deixou-me como saldo um maior encanto pelo cordel. Trata-se de um gênero literário que evoluiu e atingiu níveis de perfeição no Nordeste, consolidando-se como instrumento de transformação social e fonte de diversão, como se pode constatar ao ler os que aqui foram agrupados. Posto em bibliotecas escolares e nas mãos de professores versáteis, esta obra há de se revelar um excelente recurso paradidático.



Resenhado por Gilberto Cardoso dos Santos, educador, poeta e prosador, formado em Letras, Especialista e Mestre em Literatura e Ensino pela UFRN.


E-mail: gcarsantos@gmail.com Fone 84 999017248






segunda-feira, 20 de março de 2017

NÃO JULGUE PELA APARÊNCIA - Gilberto Cardoso dos Santos


NÃO JULGUE PELA APARÊNCIA - Gilberto Cardoso dos Santos

O homem entrou na loja não muito bem vestido e ninguém lhe deu atenção. Olharam-no ressabiados e foram atender clientes mais promissores. Cansado de esperar, ele saiu e fez uma grande compra na loja vizinha.

Jesus disse há dois mil anos: “Não julgueis pela aparência” e o tempo tem se encarregado de comprovar a sensatez disto. Ele próprio, enquanto aqui esteve, foi vítima diária disto. Apesar de tal ordem ter procedido de tão respeitáveis lábios, poucos atentam para isso. Cristãos costumam negligenciar este preceito.

Quem não já ouviu falar de igrejas  vítimas de golpes? Lágrimas, palavras piedosas ditas com fervor, ternos caros e testemunhos mirabolantes foram suficientes para que alguém fosse visto como enviado de Deus deixando resultados amargos.

Quem não já viu o tratamento diferenciado que se concede aos que se vestem bem em quase toda instituição? Todavia, como nos diz a sabedoria popular, as aparências enganam. Comerciantes já se decepcionaram com gente bem vestida e afeiçoada, e tiveram gratas surpresas com pessoas de quem não esperavam muito.

Numa sociedade apressada e superficial, tão imbuída do espírito capitalista, o ter vale mais que o ser e a aparência vale mais que a essência. Há até quem afirme que a aparência é tudo. De fato, caro leitor, numa sociedade que julga tão superficialmente as pessoas, não devemos nos esquecer de que a primeira impressão é a que fica e ter cuidado com o visual. Todavia, bem fariam  funcionários de bancos e  atendentes de casas comerciais se atentassem para as palavras daquele que tão injustamente foi julgado devido suas origens e aparência - Jesus.

Você que me lê deve ter visto a reportagem sobre a moça velha de visual pouco convidativo (sem “aparência nem formosura” como diria Isaías) submetida às exigências dos famosos caçadores de talentos  que muito se espantaram com  sua voz. Milhões de telespectadores imaginaram-se diante de  grande fiasco, mas ela cantou e encantou. Daqueles lábios anônimos, saíram sons arrebatadores. Como a lendária voz das sereias, a todos ela atraiu  e se tornou, de repente, bela.

“Não julgue o livro pela capa”, dizem os mais afeitos à leitura. Teríamos menos mães solteiras se tal conselho fosse seguido e haveria menos discriminação e calotes. Não vote pela aparência, não dê um sim apressado ao pretendente de visual encantador, não se deixe levar  por preconceitos infundados. Procedendo assim, certamente erraremos menos e viveremos em um mundo bem melhor!

 GILBERTO CARDOSO DOS SANTOS

OS FARRAPOS DE MIM - Sabrina Dorico


Os farrapos mim Os farrapos de mim São adornos do tempo Que me coube viver Com a maturidade chegando Vesti-me de mim mesma Em meu ateliê da vida Recordações vivas e constantes Refletem meu presente Mal caibo na melancolia Que trago no peito Senhorita magnífica Viva seu refúgio Aproveite a sua juventude Que é sua beleza Não sofra mais Viva, viva e viva Vamos viver! Sabrina Dorico Currais Novos, 18/03/17

sexta-feira, 17 de março de 2017

EU BEM QUE TE VI AQUI (Nailson Costa)

O meu verbo se emociona muito facilmente com a alma
Da natureza.
Basta um bem-te-vi a pedir,
Desesperadamente, ao espelho mudo, silente e
Hermético, um beijo que o meu verbo
Chora.
O meu verbo se apaixona muito perdidamente pela natureza da alma.
Basta o espelho a refletir, solitariamente, o beijo mudo, silente e hermético do bem-te-vi, que o meu verbo
Chora.
O meu verbo chora por ser como o bem-te-vi: animal! voa silente em direção ao espelho mudo pra dizer à alma da natureza da beleza hermética de um choro.
E é por isso que meu verbo se emociona e se apaixona, perdidamente, por um pedido de um
Beijo!

(Se o leitor tirasse o calçado dos pés e adentrasse no labirinto das vestes de um poeta, saberia decifrar , com precisão, cada palavra escrita, cada verso feito e cada sentimento exposto. Mas, para isso, o leitor tem que tirar o calçado dos pés pra sentir às suas vibrações). Tenho dito.

quinta-feira, 16 de março de 2017

SER POETA - Sabrina Dorico



12 POEMAS DE ORENY E ENTREVISTA










2
atraca a catraia

neste pier ribeirinho
auscultando o eco do mar
nas conchas dos mariscos
atraca a catraia
as cordas envoltas
seguram as cascas de nozes
de reis pescadores
atraca a catraia
avoadores ressecados
são estendidos no varal
refrigerando o sabor a céu aberto
atraca a catraia

3

barquinhos com cascos de papéis
velejam no meu maremoto
tanto óxido de ferro amarelecido
cardumes voando barco adentro
festejando ceias com fantasmas em férias
piratas de uma tal odisseia
submergindo ao pão com sopa
tilinto colher em forma de remo
dirigível com a bússola anti-horário

4
diante dos circos sem risos
e dos pães sem trigo
a corte distribui pílulas
com sabores distópicos

5
o tempo está sublinhado
como se a tecla travasse
a alma presa por si ao corpo
onde jaz sem partir 
sublinhado ao egoísmo
quando diz ainda me deves
e o preço é estar sublinhado
sem sombras
num céu de infelizes
o olhar sublinhado
no tempo de dentes
de porcelanas

6
nus e crus
com o céu do palato
em sombrias nuvens
a língua se queixa 
com herpes de estrelas vivas
num desaguçado sabor em braile
tateando o escuro imaginário
das promessas que fizestes
dizendo seres águas marinhas azuis

7
eggs goro
perus agourentos
ninhadas chulas
chiqueiros com mau cheiro
quintais lodosos

8
sol zunindo
no dorso curvo da lavadeira
que ensaboa e quara
o lençol de saco de açúcar
cantando sertaneja

9
reprimidas as enlatadas sardinhas
sorriem sem cabeças
deprimidas as vísceras
choram com o mau humor
dos recomendados chás em sachês
por falta de infusão

10
mares sintéticos
não criam algas
só tsunamis
e arranha-céus de solidão

11
a sete chaves
guardo meus macróbios
que irão me degustar
sob hipocrisias
eles são hilários
já me provam em vida

12
confabulando
cá com meus botões
esmiúço não segredos
casas escancaradas
porta da frente
vazando na porta do fundo
e os fantasmas afugentando-se
quintais afora

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BIOGRAFIA
Oreny Pires de Souza Júnior, 54 anos, nascido em Natal/RN, no bairro do Alecrim, convivido neste bairro até os 07 anos de idade, posteriormente mudando-se para o bairro de Cidade da Esperança, onde criou-se, convivido até os 35 anos de idade, sem perder o vínculo com a Cidade da Esperança, mudando-se em seguida para a cidade de Parnamirim, onde reside até hoje. Escreve desde os 18 anos de idade, amante da literatura. O primeiro livro que leu foi Vidas Secas, de Graciliano Ramos, em seguida Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Amante da literatura e da poesia. Estreou com livro impresso em 2016, com o lançamento de FÓRCEPS. Admirador do concretismo, onde muitas vezes se inspira para a construção dos seus poemas.

ENTREVISTA
SELMO VASCONCELLOS - Quais as suas atividades além de escrever?

ORENY JÚNIOR – A minha atividade além de escrever é ler, ler é uma obrigação, um dos princípios básicos.
SELMO VASCONCELLOS - Como surgiu seu interesse literário?

ORENY JÚNIOR – Meu interesse literário surgiu sem eu perceber, quando eu acordei, eu já estava entranhado nesse mundo louco e apaixonado que é a literatura. Escrevo desde os meus 18 anos, admirador do concretismo e no momento atual, lendo e montando um acervo da literatura potiguar.
SELMO VASCONCELLOS - Quantos e quais os seus livros publicados?

ORENY JÚNIOR – Somente 01 (hum) livro publicado, FÓRCEPS, ano 2016, editora Sarau das Letras, Natal/RN.
SELMO VASCONCELLOS - Qual (is) o (s) impacto (s) que propicia (m) atmosfera (s) capaz (es) de produzir poesias?

ORENY JÚNIOR – As atmosferas surgem de repente do nada exigindo um tudo, real, fictício, minimalista, abraçando muitas vezes os fantasmas que aparecem sem convites.
SELMO VASCONCELLOS - Quais os escritores que você admira?

ORENY JÚNIOR – James Joyce, José Saramago, Júlio Cortázar, Gabriel Garcia Marquez, Câmara Cascudo, Manoel Onofre Júnior, José Mauro de Vasconcelos.
SELMO VASCONCELLOS - Qual mensagem de incentivo você daria para os novos poetas?

ORENY JÚNIOR – Novos poetas, leiam, leiam, leiam. Na percepção do poema, abrace-o em nome da literatura, sempre apaixonante, irradiante.