domingo, 7 de janeiro de 2018

AS FACES DA PAIXÃO (Nailson Costa)


AS FACES DA PAIXÃO  
       (Nailson Costa)

“É hoje! Esta noite será especial”, pensava Pedro em Marieta, que sumira da vida dele havia três longos e sofridos anos, sem deixar rastro, perfume, recado. Pedro apaixonara-se pelos olhos alegres-esverdeados de Marieta. Apaixonara-se, também, pelas covinhas de suas bochechas sensuais, quando de seu sorriso contagiante. Pedro sofria de amor por aquela mulher madura, inteligente, educada, simpática e linda! E a coisa mais patética de um ser humano é o sentimento de um varão apaixonado! Os homens são bobões, não têm a leveza, a discrição e a camuflagem feminina no campo das grandes batalhas passionais.  Revela-se um fraco! E Pedro, havia três anos, perguntava por Marieta aos amigos próximos e obtinha deles os seus silêncios frios como resposta. Marieta sumira da sua cidade, de sua rua, das redes sociais... nada de notícias dela! Sumira. Pedro até pensou em procurar a polícia, mas algo lhe dizia que Marieta estava fazendo uso daquele charminho característico do DNA feminino, aquele semelhante à própria sombra, que, quando de frente ao seu par, foge, afasta-se, com aproximação deste, mas se este, ao lhe dar as costas e sair, desistir do contato direto com a sombra,  esta corre à sua procura. Era assim que Pedro pensava e confortava-se com isso, a certeza de que Marieta o amava! As mulheres são como as sombras: cheias de charminhos e frescuras. E era assim que Pedro pensava a respeito do sumiço de Marieta.
Pedro tinha uns feelings fiéis aos seus bons pressentimentos e, na manhã daquele  31 de dezembro, ele teve a certeza de que  ela apareceria linda, alegre, com seus olhos alegres-esverdeados e suas covinhas no engaste de suas bochechas sensuais a sorrir e a dizer-lhe “Feliz ano novo, meu amor”.
- Tenho que me fazer lindo, também – disse Pedro a ele mesmo.
Diferentemente das mulheres, e possivelmente de Marieta, ele não foi ao salão de beleza , mas foi à academia, malhar os músculos, para apascentar a alma.  Pedro não aguentaria mais aquelas poucas horas de distância do seu amor.   E três anos de espera nunca são como as horas que antecedem a festa, o baile, o encontro, o abraço, o “Como você está linda”, o beijo tão esperado. Essas horas são os doces, as entradas, são o avant-prémiere, as deliciosas preliminares do momento ansiosamente aguardado.
 Pedro toma banho, canta no banheiro, bota um perfume másculo, aquele com o cheiro de todos os espinhos verdes da natureza e ameaça dar algumas rodadas diante do espelho, mas desiste e veste um branco amarelado pela espera, penteia os fios compridos de sua paixão e toma um  uber, que  vai ao encontro de Marieta, depois de três longos e sofridos anos de sua ausência .
Pedro adentra o salão sem a leveza, a sagacidade e a discrição das mulheres belas. É que os homens não têm o dom dos fingimentos necessários! Sequer sabem disfarçar a angústia de suas procuras. Baile animado, lotado de bebidas quentes e de comidas sensuais, com as suas mesas todas fartas de pessoas fáceis e Pedro sério e ansioso, com  a sua angústia destoando da alegria daquele momento. Era um senta, levanta, estica o pescoço ... as horas passando,  “Opa, ela chegou!”, toma  uma, não era ela, toma outra, olha pro relógio e uma garota ri, toma mais uma,” Agora é ela”... Cadê Marieta?
Amanhece o dia, salão vazio e triste. Pedro, sentado, sozinho, à mesa lotada de comidas frias e das bebidas dela, sente a mesma dor de três anos antes, quando o excesso de bebida levara-o, às pressas, ao hospital , infartado, para não mais acordar. Acorde, Pedro. Pedro havia falecido havia três anos, e Marieta chorara muito a sua partida, mas refizera a sua vida, casando-se com Leandro, que amava Marieta com as mesmas forças de Pedro e que lhe dera dois lindos filhos, Ilana Larissa e Pedro Felipe.
 - Acorde, Pedro, precisamos descer o segundo UMBRAL do salão de sua outra pena! Vamos? 

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