Quantas pessoas
perderam a esperança, esperando uma
mudança, desse quadro social? Quantas padecem de
fome, nesse país tão desigual? Entra e sai Presidente, mas nada
é diferente nessa área social. É professor mal remunerado, o trabalhador sendo
explorado, o pobre fica triste e o empresário desesperado. O imposto tira o reajuste, que não passa de um
embuste, somente para enganar. Continua o sofrimento, só lhe sobra o lamento, de
quem não sabe votar. Povo escravizado, tanto imposto e desgosto, tá na
hora de mudar! Acabar com a escravidão, é saber usar a urna no dia
da eleição. O sofrimento desse povo, só tem uma explicação: o espírito de desgraça chamado corrupção.
(refrão) Pai, afasta de mim esse cálice Pai, afasta de mim esse cálice Pai, afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue
Como beber dessa bebida amarga Tragar a dor, engolir a labuta Mesmo calada a boca, resta o peito Silêncio na cidade não se escuta De que me vale ser filho da santa Melhor seria ser filho da outra Outra realidade menos morta Tanta mentira, tanta força bruta
(refrão)
Como é difícil acordar calado Se na calada da noite eu me dano Quero lançar um grito desumano Que é uma maneira de ser escutado Esse silêncio todo me atordoa Atordoado eu permaneço atento Na arquibancada pra a qualquer momento Ver emergir o monstro da lagoa
(refrão)
De muito gorda a porca já não anda De muito usada a faca já não corta Como é difícil, pai, abrir a porta Essa palavra presa na garganta Esse pileque homérico no mundo De que adianta ter boa vontade Mesmo calado o peito, resta a cuca Dos bêbados do centro da cidade
(refrão)
Talvez o mundo não seja pequeno Nem seja a vida um fato consumado Quero inventar o meu próprio pecado Quero morrer do meu próprio veneno Quero perder de vez tua cabeça Minha cabeça perder teu juízo Quero cheirar fumaça de óleo diesel Me embriagar até que alguem me esqueça
* Padre Antônio Henrique - barbaramente torturado, castrado e assassinado só porque trabalhava com Dom Helder.
* Zuzu Angel Jones - estilista, tinha um filho militante político e embora não concordasse com ele, sempre se preocupou com sua segurança, principalmente após seu desaparecimento. Ao descobrir que foi assassinado numa prisão, empenhou-se em encontrar seu corpo e fez discursos em filas de banco e aviões, além de entregar um dossiê sobre o caso a Henry Kissinger. Ao sair de uma festa, teve seu carro trancado até cair de um tunel, deixando duas filhas.
* Vladimir Herzog - jornalista e diretor da TV Cultura, frequentava o partido comunista porque achava que ele poderia acabar com a ditadura. Mesmo sendo funcionário de um ente público, foi convocado para depor no DOI-CODI, onde morreu em decorrência de torturas severas. Em seguida, tentou-se forjar que se enforcara, como se fosse possível alguém se enforcar de joelhos. Deixou viúva e dois filhos pequenos.
- Controversas:
* Rubens Paiva - médico e político, desapareceu nas dependências do DOI-CODI, mas há indícios de que foi assassinado e esquartejado.
* Humberto Castello Branco - primeiro presidente militar, morreu num acidente aéreo pouco após entregar o cargo, em circunstâncias misteriosas.
Por que conto essas histórias? Porque embora não me identifique com comunistas nem radicais, pois não poucas vezes são pessoas intolerantes, me preocupa a quantidade cada vez maior de discursos apologistas à ditadura nas redes sociais. Aquela não foi uma "Era de Ouro", e sim um período onde a violência e a arbitrariedade reinaram praticamente sem medidas.
Para terminar, gostaria de colocar aqui duas canções sobre essa época "gloriosa". Uma delas foi composta poucos dias antes, mas se constituiu numa verdadeira profecia sobre todos os horrores vindouros (inclusive quando seu autor disse que não estaria lá para ver quando tudo voltasse ao normal), e a outra homenageia em Zuzu Angel as dores de todas as que sofreram como ela:
Já fiz promessa, rezei...
olho pro céu todo dia
como manda a profecia
uma garrafa enterrei
uns trinta santos roubei
mas nenhum quis me atender
São Pedro, eu vou te dizer
O senhor mesmo tá vendo
minha parte eu tô fazendo
Só falta agora,chover
Em prosa, verso e imagem
Fernando foi relembrado
deixando um belo legado
em sua breve passagem
um exemplo de coragem
e de luta sem medida
triste foi a despedida
para quem o conhecia
e teve que ver o dia
de sua eterna partida.
Fica esta bela cena
de um beijo apaixonado
esse instante do passado
fez tudo valer a pena
em sua vida terrena
não teve tudo que quis
no entanto foi feliz
em sua luta aguerrida
"Aproveite bem a vida"
é o que a imagem nos diz.
Como Nietzsche, Fernando não foi apenas um homem, foi um campo de batalha. Lá, naquele coração que irresignadamente teimou em bater por 37 anos, muitas lutas foram travadas. Ele
enfrentou o preconceito, a dura condição social, a dor da perda do pai e da mãe e, principalmente, a terrível “doença de Crohn”.
Fernando venceu muitas batalhas, porém, mesmo lutando com forças impossíveis, perdeu a batalha final. Foi um duelo desumano e desproporcional – por isso ele perdeu -, pois não lutou “apenas” contra essa doença gigante, mas contra um sistema de saúde pública ineficiente e despreparado...
Descansa em paz, amigo, e perdoa esta natureza incompreensível que juntou um amontoado de débeis átomos para formar teu frágil corpo, dotando-o de um grande cérebro, capaz de provar o fútil sabor de uma breve vida.
Já se encontra no mercado, Nos bares de Apodi Porção de burro grelhado Jumento a catupiry Tem lombo na frigideira Jerico ao molho madeira Ovo de burro na brasa Bisteca de jegue preto Tripa assada do espeto Como franquia da casa
Antes da semana santa Me disseram num sussurro; Tão querendo matar burro Pra preso comer na janta. Essa noticia me espanta Esbravejou um detento: Se botarem esse alimento Prefiro comer carniça Do que morder a linguiça Do diabo desse jumento
Poema feito por mim Valdeilson Ribeiro para uma aluna da Universidade Potiguar (UNP) e recitado na voz do meu grande amigo Anderson Lima.
Exaltarei em poesia A minha terra adorada Meu pedaço de alegria Meu, berço, minha morada Meu Rio Grande do Norte Sou um cidadão de sorte Feliz, por te pertencer, Terra de tantas riquezas Tão linda por natureza Tu és o meu bem querer
Tua história no passado Cheia de bravos guerreiros Muito sangue derramado Tudo visando o dinheiro A invasão holandesa Truculência sem nobreza Feriu a nossa nação, E os Mártires de Cunhaú Também de Uruaçu Sofreram com a invasão
Os Mártires hoje lembrados Por todos com muita glória Serão sempre venerados Parte da nossa história São Gonçalo do Amarante Uma cidade importante Na história potiguar, Hoje, alguns monumentos Retratam tempos sangrentos Que ninguém quer relembrar.
Hoje o nosso estado É pólo industrial É um dos mais visitado Em cadeia nacional O turismo é consequência Da beleza e competência De um povo acolhedor, Uns vivem de agricultura Mostrando sua bravura E encarando com amor
Terra de bons camponeses Que regem nosso estado Trabalham dias ou meses Só no trabalho forçado Para abastecer as feiras No mercado, as prateleiras Com arroz, milho ou feijão, Com leite, farinha ou queijo E assim vive o sertanejo Abastecendo o sertão.
Uns vivem da pescaria Outros vivem do roçado Uns acordam todo dia Para a lida com o gado Um povo de muita fé Que às 5:00 estão de pé Para ganhar seu dinheiro, O sertanejo vendendo Com garra fortalecendo O nordeste brasileiro.
O turismo na cidade É algo de impressionar Gente de todas as idades Chegam para contemplar Paraísos naturais Colinas, cartões postais Enchem os olhos de prazer, Quem passa em nosso estado Fica anestesiado Com tudo aquilo que ver.
Com piscinas cristalinas Por todo o litoral Esportes de adrenalina Pelas praias de Natal Pratos de frutos do mar Passeio a luz do luar Em plena via costeira, Pelas dunas da cidade Você sente a liberdade E a plenitude verdadeira.
Estátuas religiosas Atrai muitos peregrinos Imagens maravilhosas Inúmeros são os destinos Tem turismo em São Gonçalo Também em Monte do Galo Ruy Barbosa, tão bonita, Em Sítio Novo um castelo É um dos pontos mais belos E a gigante Santa Rita.
Litoral Norte ou Sul Destinos interessantes Dunas em Genipabu Com paisagens deslumbrantes O enorme cajueiro Vem gente do mundo inteiro Visitá-lo em Piranjí, Dezenas de balneários Tem A pedra do Rosário E o pico do Cabugí.
Terra de tantas farturas Mercado de exportação Trazendo mais estrutura Pra toda a população Rica em pinha e imbu Manga, melão e caju E tem montanhas de sal, 95% por cento Do sal do seu alimento É extraído em Natal.
Um povo hospitaleiro Que mantém as tradições Preservando o bom vaqueiro E as festas de apartações O boi de Reis, a sanfona, Tudo isso trás a tona Toda uma evolução, Danças, crenças, maravilhas E o brilho das quadrilhas Em noite de São João.
A vida tão agitada Pelas grandes capitais Contrasta às madrugadas Na Cidade dos Currais Com o barulho do chocalho Cheiro de queijo - de - coalho E o canto de um sabiá A vegetação rasteira E o barulho das porteiras Faz o sertão acordar.
E os colonizadores Hoje vem nos visitar Hoje, admiradores Do que quiseram tomar As festas de padroeiro Vem gente do mundo inteiro As ruas ficam tomadas Orgulho do nosso estado Também as pegas de gado As famosas vaquejadas.
Eu amo a minha terra Com todo o meu coração Desde o pé daquela serra As margens do ribeirão Da colina à cidade Da riqueza à humildade A cultura nos uniu Amarei-te até a morte Sou Rio Grande do Norte Sou Nordeste, sou Brasil.
"Sou um leitor de poesia. Leio profissionalmente e dou aulas na universidade sobre poesia, tenho a leitura como um trabalho”, diz o poeta e ensaísta carioca Eucanaã Ferraz, dando pistas de seu grau de envolvimento com os versos, sejam eles rimados ou não. Ferraz participa das celebrações alusivas ao Dia Nacional da Poesia, hoje, a partir das 9h, no Teatro de Cultura Popular. O dia começa com o tradicional café da manhã oferecido aos artistas.
DivulgaçãoEucanaã Ferraz: Hoje não vejo muito sentido nesses movimentos poéticos, não vivemos mais no tempo onde um grupo ou uma ideia possa se definir como a saída para a literatura ou para a arte. O tempo é outro.
Logo após o desjejum, o público confere performance de Eucanaã, que em 2012 participou do Flipipa e ano passado dividiu mesa com Caetano Veloso durante o Festival Literário de Natal. O poeta carioca preparou a palestra-sarau “A poesia vista pelos olhos da poesia”, com uma seleção de poemas cujo tema é a própria poesia e o papel do poeta. “O que a poesia pensa sobre si mesma”, adiantou o autor do premiado “Sentimental”, livro escolhido como o melhor na categoria Poesia do prêmio Portugal Telecom 2013. Ferraz selecionou textos de Manoel Bandeira, Carlos Drumond de Andrade, Vinicius de Moraes, Cecília Meireles, João Cabral de Melo Neto, Armando Freitas Filho, Ferreira Gullar e Wally Salomão, para uma viagem do Modernismo nos anos 1920 até o desbunde da década de 1970.
A programação matutina na Funcarte ainda inclui homenagem ao poeta/processo Moacy Cirne, intervenções poéticas, debates e lançamento dos prêmios literários Câmara Cascudo (ensaios etnográficos), Othoniel Menezes (poesia) e o novo Moacyr Cirne (ensaios literários). E quando a noite cair, será a vez do pernambucano Silvério Pessoa fazer show no pátio da Capitania às 20h.
Mas as opções não param por aí: está previsto movimento no Beco da Lama à tarde e durante todo o dia a Fundação José Augusto promove uma série de atividades na Pinacoteca do Estado, com debates, recital e shows – confira programação completa na página 4, além, claro, do suplemento de Poesia, organizado por Aluízio Mathias, que sai encartado nesta edição do VIVER. A TRIBUNA DO NORTE conversou por telefone com Eucanaã Ferraz.
A qual poeta/escrita você tem se dedicado como leitor? Tento me manter o mais atualizado possível, não só por questões profissionais como por interesse pessoal. Recebo muito livros, e estou sempre comprando novos títulos de olho no que está saindo. Acompanho com grande interesse. Também procuro me manter sempre informado pela poesia portuguesa. Sou um apreciador de longa data da poesia portuguesa, que sempre foi muito importante para minha formação como leitor, autor e mesmo como estudioso. Você falou sobre se manter atualizado. E a internet, onde é que ela entra nessa história? Tem muita coisa dispersa, as vezes eu vejo alguma coisa que as pessoas me mandam, um link, um blog, mas me cansa. Não tenho Facebook, então me mantenho razoavelmente desatualizado. Prezo por isso. Mas sei que tem coisa boa acontecendo.
Esse assunto internet levanta outra questão: hoje há muitos textos circulando na rede erroneamente creditados a Clarice Lispector, Cecília Meirelles, Drummond... Há um descuido geral que me desagrada profundamente. Vejo como cretinice alguém atribuir algo à Clarice quando ela sabe que não é da Clarice. Aí vem outra pessoa que não é uma cretina, mas um pouco ingênua, preguiçosa ou simplesmente tem boa com o mundo que acredita naquilo e compartilha, e no final ninguém sabe mais de nada. Como a origem disso tudo é a cretinice, isso só gera tolices e equívocos. Me desperta repúdio e desprezo. Já vi poemas meus publicados em blogs sem respeitar a quebra de versos, as estruturas das estrofes. Em um poema, cada vírgula, cada pausa, cada travessão... tudo tem significado. As pessoas têm que começar a pensar em poesia como se fosse um prédio, que se tirar um pilar ele vai desmoronar todo. Poesia não é uma obra do espírito e deve ser pensada como algo material. Vejo esses compartilhamentos serem feitos de forma irresponsável. Claro que isso não é geral, e que minha resposta pode soar antipática, mas não estou aqui querendo ser simpático. Então essa expansão da poesia na internet não é má: é boa, mas não excelente. Passa a sensação de terra de todos e de ninguém.
É possível saber quem é hoje o leitor de poesia? Tenho a impressão que eles (os leitores) são o que sempre foram: poucos. Esse fenômeno da internet não é um termômetro para determinar aumento de leitores em número ou em qualidade. As pessoas postam sem ler, em vez de comentar o poema postado, mandam um poema próprio – estão mais preocupadas em ser lidas, não em ler. Os leitores de poesia, dignos desse título, são inexpressivos, nunca serão em número suficiente para mover vendas de editoras. Não entenda isso como desprestígio ou drama, é preciso olhar com realismo. Também não há aí nenhuma culpa da poesia e/ou dos poetas.
Premiações literárias, como o Portugal Telecom que destacou seu livro “Sentimental” em 2013, funcionam como uma bússola para o leitor? Sim, é uma referência para o leitor, uma referência geral para a instituição literatura que ao longo do tempo vai desenhando suas história: quais os autores foram ou são relevantes naquele determinado período. Os prêmios, claro, norteiam o leitor. Quando autores esperneiam contra esses prêmios, contra a literatura, eles estão entrando para a história como autores que espernearam. Se forem bons autores, vão ser lembrados também por essa característica; se não forem bons autores terão esperneado à toa.
Os autores que você está trazendo para sua palestra aqui em Natal, Manuel Bandeira, Drummond, Vinícius de Moraes, João Cabral de Melo Neto, Ferreira Gullar e Wally Salomão, entraram para a história, são cânones indiscutíveis... Pretendo fazer uma homenagem à poesia a partir de leitoras de poemas nos quais os poetas pensam nos seus poemas, pensam a escrita e a palavra. Eles já estão homenageando a poesia e, quando ler, estarei homenageando a homenagem. Como um jogo de espelho: no Dia da Poesia vou ler a poesia de autores falando de poesia. Acredito que escolhi grandes autores, que representam muito bem o espectro da poesia. São autores essenciais. Natal e Rio de Janeiro estiveram conectados no final dos anos 1960 com o movimento do Poema/Processo, inclusive Moacy Cirne será um dos homenageados no evento deste ano. Qual a importância desse e de outros movimentos que subvertem a poesia? Tanto o Poema/Processo, como a concreta, práxis, marginal foram detentoras da ideia do conceito de vanguarda. Quando não tinham um manifesto defendendo pontos de vista, tinham poemas que funcionaram como tal. Junto com a vontade de subversão, de renovação, há uma certa intolerância, uma certa arrogância. Um espírito mais ou menos belicoso que dá esses movimentos uma das características mais interessantes que é a violência. Hoje não vejo muito sentido nesses movimentos, não vivemos mais no tempo onde um grupo ou uma ideia possa se definir como a saída para a literatura ou para a arte. O tempo é outro.
Hoje vale tudo ou sempre valeu? Não diria “valer tudo”, fica um pouco a impressão de que não há critérios. Há sempre critérios! Sempre o julgamento está sendo feito mesmo que esperneiem contra isso. Não sou a fazer da suspensão de todo e qualquer critério ou de juízo de valor. Vejo uma maior convivência, de formas, soluções, saídas. Tivemos uma tradição poética da qual os poetas contemporâneos fazem parte, que traz a responsabilidade aos autores de renovar, de atualizar. É isso que fortalece a instituição literatura. Temos uma poesia forte no Brasil, com uma história longa, e é importante que os autores sejam constantemente lembrados, atualizados, repensados.